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Estado se fortalece após atentados terroristas

Por Agencia Estado
Atualização:

Inúmeras são as mudanças provocadas pelo acontecimento brutal do dia 11 de setembro. Ao longo dos dias, percebe-se que todos as áreas da vida privada ou pública foram atingidas. Hesita-se em tomar um avião. As viagens em cruzeiros inquietam. Todos pensam antes de comprar. A diplomacia americana faz "carinhos" em seus inimigos de antes, os "Estados perigosos". Hollywood vai contratar novos cenógrafos, menos obcecados pelo estilo explosivo etc. Entre essas modificações, algumas são mais fundamentais e, sem dúvida, mais duráveis. Por exemplo, a do Estado. Falava-se mal dele, do Estado! Ele era culpado de todas as nossas pestes. Ele nos havia levado para o abismo. Felizmente, madame Thatcher, grandes cérebros de Chicago e o cérebro mais modesto de Ronald Reagan tinham decidido abater esse Estado como se abatem os pombos nas quermesses. De modo que se navegava para um planeta limpo do Estado, em que tudo "ia caminhar sozinho, como em roletas, graças a um novo ator, que ocuparia o lugar do Estado: o "mercado", palavra mágica, palavra mais cintilante do que uma árvore de Natal. Os atentados fizeram essa "árvore de Natal" balançar. Isso é perceptível principalmente no país que foi submetido à mais terrível ferida, que é também o país do "liberalismo", do "mercado" - os Estados Unidos. Desde o dia 11 de setembro, não há um dia em que não se anuncie um novo avanço do Estado: os fundos públicos foram vertidos em favor tanto das indústrias quanto do transporte aéreo. Quantias enormes do orçamento federal são mobilizadas para aumentar a demanda. Pensa-se em nacionalizar a segurança aérea. Alguns dogmas, incontestáveis anteriormente, vacilam agora: quando a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) timidamente tinha proposto um plano contra a lavagem de dinheiro, os americanos nem sequer responderam, por considerarem-no muito idiota. Hoje, Washington quer atacar até mesmo os paraísos fiscais. O secretário do Tesouro, antigo patrão do gigante do alumínio Alcoa, Paul O´Neil, tinha declarado sua desconfiança em relação às reuniões de cúpula do G7, pois, de acordo com ele, o único meio de "regular" era "desregular", ou seja, basear-se na sabedoria automática do "mercado". Hoje, o mesmo O´Neil, imitando São Paulo no caminho de Damasco, tem uma visão: sim, o G7 não é tão mal e até mesmo seria conveniente ver um pouco do lado de lá. Outro efeito do alerta trágico do dia 11 de setembro: também no campo das liberdades individuais, a tendência é a de um controle mais estrito do Estado. E como poderia ser de outra maneira, a partir do momento em que os terroristas conseguiram proliferar de uma forma profusa em todos os países ocidentais, beneficiando-se da liberdade sacrossanta desses países? A Grã-Bretanha vai restabelecer a "carteira de identidade". Questiona-se se a Internet não merece um conselho de vigilância muito rigoroso. Policiais serão postos nos aviões etc. Assim, seja na esfera da economia ou na esfera privada, o Estado volta com grande pompa. O que pode ser dito de uma outra maneira: ao período "inteiramente econômico" (década de 1990), de que o triunfo do "mercado" foi o símbolo espetacular, parece suceder um novo período, em que a "política" volta a galope e, com ela, um "intervencionismo" mais forte, mais genérico. Naturalmente, é preciso atenuar essas observações: o "mercado" resiste. Tem ainda belos dias pela frente, assim como as liberdades individuais, mas, nesses dois níveis, o abandono à "não-intervenção" mostrou, cruelmente, seus limites. Não falamos de uma volta a Keynes ou ao New Deal, graças ao qual Roosevelt salvou a América do abismo antes da guerra. Mas não há a menor dúvida de que a atual urgência, o aumento dos perigos e a prodigiosa "desordem do mundo" no presente vão impor a necessidade de se arrumar um lugar mais forte para o Estado, para o intervencionismo, para os controles e, em suma, para a "política".

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