Estrangeiros deixam hotel sitiado por forças de Khadafi em Trípoli

Cerca de 35 pessoas, a maioria jornalistas, ficaram isolados por dias no edifício, em meio ao fogo cruzado.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Os cerca de 35 estrangeiros - em sua maioria jornalistas - presos há dias no hotel Rixos, no centro de Trípoli, deixaram o local na tarde desta quarta-feira. O hotel fora sitiado pelas forças de Muamar Khadafi, enquanto a maior parte da capital líbia caía sob o poder dos rebeldes. Entre os profissionais da imprensa estavam cinco jornalistas da BBC, que ficaram seis dias no hotel sob condições precárias. Os jornalistas e demais estrangeiros deixaram o local em veículos blindados. Nesta terça-feira, as forças rebeldes ocuparam quase a totalidade de Trípoli, o último grande reduto de Khadafi. Os opositores também romperam o cerco ao complexo governamental e residencial do líder líbio, cujo paradeiro é desconhecido. Apesar da aparente queda do regime, Trípoli ainda vive sob tensão. Durante a madrugada, Khadafi fez um discurso transmitido pela rádio e pela TV estatal, convocando seus aliados a resistirem à ocupação dos rebeldes. Ele disse ter feito uma "retirada tática" de seu quartel-general, o complexo de Bab al-Aziziya. Não se sabe se Khadafi ou sua família estavam no complexo no momento do ataque. Acredita-se que o grupo tenha acesso a vários bunkeres em Trípoli e em outras cidades, inclusive na cidade natal do líder líbio, Sirte - que é um bastião de forças leais a seu regime. Hotel Os estrangeiros viveram momentos de tensão nos dias em que ficaram presos no hotel no centro de Trípoli. O repórter Matthew Price, da BBC, havia relatado que as condições pioravam a cada momento no local, com tiroteios nos arredores. Após dias de isolamento, já havia escassez de água e comida e apagões. "É uma situação desesperadora para cerca de 35 estrangeiros. Há um congressista americano aqui, há um parlamentar indiano. A situação piorou muito durante a noite, quando ficou claro que não poderíamos sair do hotel livremente", disse Price, horas antes da libertação. Segundo o jornalista, atiradores montaram guarda nos corredores do Rixos. Também havia atiradores posicionados no telhado e atrás das árvores, nas ruas em volta do hotel. "Um cinegrafista da (rede britânica) ITN teve um rifle AK-47 apontado contra ele (quando tentou deixar o hotel), um guarda se aproximou e o empurrou, apontando a arma na direção dele", afirmou o jornalista. Segundo jornalistas líbios, não se sabe exatamente qual era objetivo dos guardas armados dentro do hotel Rixos. Para o jornalista da BBC em Benghazi, Jon Leyne, apesar de o hotel ser aparentemente um alvo valioso, o mais provável é que soldados leais a Khadafi estivessem no local sem liderança nenhuma, executando ordens que haviam recebido antes, e simplesmente não queriam deixar seus postos. Julgamento Integrantes do Conselho Nacional de Transição, baseado em Benghazi, já se preparam para a transferência para a capital líbia. O porta-voz do Conselho, Hany Hassan Soufrakis, disse à BBC na terça-feira que o sistema judiciário da Líbia não está preparado para um eventual julgamento de Khadafi, e que por isso o processo deve ocorrer no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda. O CNT já é reconhecido como governo interino pelos Estados Unidos e por vários países da Europa e do mundo árabe. O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse também na terça-feira que o Brasil aguardará a posição da ONU para decidir se reconhecerá a soberania dos rebeldes líbios. Segundo ele, o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, obteve garantias dos rebeldes de que os contratos firmados pelas companhias brasileiras - como Odebrecht, Queiroz Galvão e Petrobras - durante o governo de Khadafi serão honrados. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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