Estratégia de Trump é dizer e desmentir

Ele cria confusão o suficiente para permitir que as pessoas lhe deem o benefício da dúvida

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Por Philip Bump
Atualização:

Essa tentativa de Donald Trump de arrumar sua confusão insulta a inteligência dos Estados Unidos. Primeiro de tudo, o presidente recuou de sua declaração de que aceitava a conclusão do serviço de inteligência sobre a culpa da Rússia.

De acordo com a comunidade de inteligência, não há indicação de que mais alguém, além da Rússia, esteve envolvido nos esforços de interferência nas eleições presidenciais de 2016, que as agências americanas acreditam que tenham sido conduzidos pelo Kremlin. 

Trump recuou um dia depois de se reunir com Putin e disse que aceita relatórios americanos sobre ingerência russa na eleição de 2016 Foto: EFE/Michael Reynolds

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Não há ninguém que tenha sido indiciado após a investigação conduzida pelo promotor especial Robert Mueller que não seja russo. Treze cidadãos da Rússia foram indiciados por seus esforços para influenciar os eleitores por meio das mídias sociais. Outros 12 funcionários da inteligência russa foram indiciados na semana passada por hackear o Comitê Nacional do Partido Democrata e a campanha de Hillary Clinton.

Dizer que você aceita as conclusões da comunidade de inteligência, mas crê que “outras pessoas” podem estar envolvidas é como dizer que você aceita que a Terra é redonda, mas também tem medo de navegar até a borda. Trump já jogou este jogo antes. No último ano ou dois, ele refinou, ampliou e mudou suas afirmações sobre Putin e a Rússia numerosas vezes. 

O presidente americano disse aceitar as conclusões de inteligência e logo mudou de opinião, colocando essas conclusões em dúvida. Repetidamente. E ele fez isso com várias outras questões. A mais óbvia foi sua resposta ao protesto racista de agosto, em Charlottesville, no Estado de Virginia. Trump se alternou entre aceitar e rejeitar a premissa da extrema direita e dos nacionalistas brancos, que organizaram o evento, dependendo de como os ventos estavam soprando. 

Esta é a estratégia. Não é complicada: ele fez isso inúmeras vezes antes, quando enfrentou duras críticas de seus partidários. Ele criou confusão o suficiente para permitir que as pessoas lhe dessem o benefício da dúvida. Se você está inclinado a apoiar Trump, mas está aborrecido com seus comentários, é o alvo.

O presidente Trump geralmente cita uma pequena coisa que Barack Obama ou Hillary Clinton fizeram para justificar suas ações mais graves. Ele destaca um pequeno ponto de luz para dar a seus partidários a possibilidade de ver algo mais que apenas nuvens.

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O problema para Trump é que ficará cada vez mais difícil para ele arrumar seus comentários mais tarde. Se você acredita que ele não entendeu qual era a confusão até notar o “erro” na transcrição da entrevista coletiva em Helsinque, você deve acreditar que ele não tem mais mudanças a fazer.

Ao não esclarecer seus vários esforços para minar as conclusões da comunidade de inteligência dos EUA, ele está dizendo que está bem com eles. E esses comentários tornam claro o que estava óbvio na segunda-feira. Trump rejeita as conclusões da comunidade de inteligência americana. 

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