Estratégia divide comando dos EUA

Superior hierárquico de David Petraeus defende fim do reforço militar e redução do contingente atual até 2010

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Por WP e Washington
Atualização:

O envio de um reforço militar de 30 mil soldados para o Iraque, em fevereiro, causou uma divisão no alto comando do Exército dos EUA, revelou ontem o Washington Post. De um lado, o general David Petraeus, comandante dos EUA no Iraque e homem de confiança do presidente Bush. Do outro, seu superior, o almirante William Fallon, chefe do Comando Central dos EUA, que supervisiona as operações no Oriente Médio. Fallon, de acordo com o Post, seria favorável a uma mudança na estratégia atual. Entre junho e agosto, ele enviou um representante a Bagdá para coletar informações e, logo depois, passou a desenvolver planos para redefinir a missão dos EUA. Para ele, o número de tropas deveria ser radicalmente reduzido - três quartos do contingente atual até 2010 - para empregá-las, em caso de necessidade, em outros países da região. Essa visão vai de encontro com o que defende Petraeus. A idéia do general é manter o máximo possível de soldados no Iraque com o objetivo de consolidar os avanços conquistados pelas tropas na área de segurança. As opiniões de Fallon foram vistas pela equipe de Petraeus como uma intromissão e uma ameaça a seu plano de estabilização de longo prazo. "Relação ruim entre os dois?", retrucou um alto funcionário do governo ouvido pelo Post. "Esse é o eufemismo do século. É mais ou menos como dizer que o apocalipse foi só um pequeno tumulto." Hoje, quando apresentarem ao Congresso os relatórios sobre o progresso feito no Iraque, Petraeus e o embaixador Ryan Crocker deverão enfrentar as mesmas perguntas que têm sido feitas dentro do comando militar. Quanto tempo vai durar a estratégia de reforço militar? Quando os soldados americanos começarão a voltar para casa? Os EUA devem continuar a apoiar o primeiro-ministro Nuri al-Maliki ou procurar outra liderança? Diante da falta de respostas, a estratégia adotada pelo governo Bush nos últimos oito meses é a de ganhar tempo. Tempo para que o reforço militar dê resultado e para que os iraquianos consigam se defender sozinhos. O depoimento de Petraeus e Crocker, marcados para hoje e amanhã, serão fundamentais para ganhar um novo prazo. OPOSIÇÃO DEMOCRATA O senador democrata Joseph Biden disse ontem que a oposição continuará a pressionar a Casa Branca a estabelecer um prazo para a retirada das tropas americanas do Iraque. "A estratégia de guerra de Bush está completamente errada. Apesar de termos tido algum progresso na área de segurança, a verdade é que a violência sectária está fora de controle em Bagdá e na Província de Anbar", afirmou. Enquanto os congressistas americanos preparam-se para mais uma queda-de-braço no plenário, a ONU anunciou que vai atrasar a divulgação de seu relatório trimestral sobre violação de direitos humanos no Iraque. O motivo, segundo funcionários da organização, é evitar críticas aos governos iraquiano e americano no exato momento em que eles atravessam uma crise interna.

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