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Estudantes protestam e exigem 'ver' Chávez

Trinta opositores acorrentam-se na sede da Magistratura em Caracas, que teve as ruas tomadas por chavistas que lembraram os 24 anos do 'caracaço'

Por Roberto Lameirinhas e CARACAS
Atualização:

O chavismo e a oposição estão nas ruas de Caracas. Um grupo de aproximadamente 30 estudantes acorrentou-se na noite de terça-feira na frente da sede da Magistratura, na Avenida Francisco de Miranda, no distrito de Chacao, exigindo "ver" o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ontem pela manhã, em outro ponto da cidade, na Avenida San Martín, milhares de chavistas concentraram-se num ato para lembrar os 24 anos do "caracaço", a série de distúrbios, saques e protestos antigoverno que deixou ao menos 300 mortos.Diante do silêncio que se mantém sobre a saúde de Chávez, os estudantes ligados à oposição venezuelana chegaram a paralisar o tráfego na Francisco de Miranda, uma das principais vias da cidade, e foram reprimidos por soldados da Guarda Nacional, que utilizaram cassetetes, gás lacrimogêneo e balas de borracha para liberar a pista. O mesmo grupo tinha promovido um ato parecido duas semanas atrás, quando se acorrentaram na fachada da Embaixada de Cuba em Caracas, quando também exigiam uma "prova de vida" de Chávez, então internado num hospital de Havana."Vamos manter nossa mobilização até que tenhamos notícias sobre a situação do presidente e, se necessário, levaremos o protesto até o hospital militar", declarou o estudante da Universidade Andrés Bello Carlos Briceño. Os membros do protesto também exigem a libertação de um líder estudantil preso na véspera em razão do tumulto na manifestação na frente da embaixada. "Advertimos o governo: libertem José Antonio Peralta. Se não o libertarem, seguiremos nos manifestando até as últimas consequências."A prisão de Peralta, estudante da Universidade de Los Andes, de 30 anos, foi anunciada na véspera pelo ministro do Interior e Justiça da Venezuela, Néstor Reverol. Imagens gravadas pela emissora estatal VTV mostraram o estudante tentando arrancar o marca-passo de Román Toplack, de 69 anos, que discutiu com os estudantes durante uma entrevista coletiva na frente da embaixada.Por seu lado, os chavistas converteram a manifestação pelos 24 anos do chamado "caracaço" em um ato de apoio irrestrito ao presidente. "Graças ao presidente Chávez, podemos ter a certeza de que o que aconteceu em 1989 nunca mais acontecerá na Venezuela", declarou o militante do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) Juan Luis Vera. A prolongada ausência do líder bolivariano não é considerada um problema para seus partidários. "Ele está recuperando sua saúde e descansando para poder levar adiante sua revolução", disse Vera.Após as contraditórias informações do fim de semana, o governo não emitiu nenhuma declaração oficial sobre a saúde de Chávez. Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Elías Jaua, havia ratificado a informação de Ernesto Villegas - ministro das Comunicações e Informação - de que seu quadro havia piorado em razão da insuficiência pulmonar da qual o presidente padece desde a quarta cirurgia para combater o câncer a que se submeteu em Cuba.Uma pesquisa da empresa Hinterlaces, publicada na terça-feira, indica que 60% dos venezuelanos acreditam que Chávez poderá se curar e assumir novamente suas funções de governo. Por outra parte, a oposição intensifica sua mobilização para uma eventual nova eleição presidencial - que se daria 30 dias após a possível declaração de incapacidade permanente de Chávez para exercer o poder. O governador de Miranda e candidato presidencial derrotado por Chávez em 7 de outubro, Henrique Capriles, reiterou ontem que iniciará um giro por todos os Estados do país para mobilizar a população. "Se o presidente se recuperar e não houver eleições, ótimo. Mas temos de estar preparados para qualquer cenário", disse Capriles. Os partidos da Mesa da Unidade Democrática (MUD), contudo, vêm ressaltando que ainda não escolheram um nome para a possível disputa eleitoral.

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