EUA acolherão 10 mil sírios em 2016, diz governo; número é alvo de críticas

Presidente Barack Obama anuncia meta considerada baixa por grupos de direitos humanos, por opositores ligados ao Partido Republicano e até mesmo por aliados democratas

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Por Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Semanas depois de a crise dos refugiados se agravar na Europa, o presidente americano, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira, 10, que seu país receberá 10 mil imigrantes sírios no próximo ano fiscal. O número é considerado insuficiente por organizações humanitárias. O Comitê Internacional de Resgate tentava pressionar Washington a aceitar ao menos 65 mil pessoas expulsas pela guerra civil iniciada em 2011.

Nos quatro anos decorridos desde então, os EUA receberam apenas 1.500 refugiados sírios, menos que os quase 2.100 aceitos pelo Brasil. A Alemanha anunciou que poderá conceder asilo a 500 mil pessoas neste ano. O número proposto por Washington representa metade dos que serão recebidos pela Venezuela, segundo promessa do presidente Nicolás Maduro. 

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“Fantástico! Obama aceitará 10 mil refugiados sírios. Isso é 0,25% dos 4 milhões necessários”, ironizou no Twitter o diretor executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth. Esse é o número de pessoas que deixaram a Síria fugindo do conflito interno, segundo estimativa do Alto Comissariado da ONU para Refugiados. O universo representa quase 20% dos 23 milhões de habitantes do país.

Opositores de Obama e mesmo alguns aliados de seu partido avaliam que a crise de refugiados reflete o fracasso da estratégia americana para a Síria – ou a ausência dela. Na quarta-feira, a pré-candidata democrata à presidência Hillary Clinton lembrou que defendeu o envio de armas aos rebeldes sírios muito antes que Obama finalmente adotasse a medida. Quando o apoio militar começou a ser concedido, o Estado Islâmico já havia avançado muito na guerra contra o regime de Bashar Assad.

Em discurso na Brookings Institution, Hillary também sugeriu que seu país deveria adotar uma posição mais ativa na crise dos refugiados. “Os Estados Unidos precisam estar na mesa, têm de liderar isso.”

A Síria é vista como um dos principais fracassos da política externa de Obama, que ameaçou bombardear o país em 2013, depois de Assad ter usado armas químicas contra civis. O americano acabou recuando, apesar de ter afirmado que essa era a “linha que não podia ser ultrapassada” pelo dirigente sírio, movimento interpretado como um sinal de fraqueza.

Quando era secretária de Estado, em 2012, Hillary defendeu que os EUA armassem e treinassem a oposição “moderada” síria, mas Obama resistiu, com temor de que os equipamentos acabassem nas mãos de extremistas. O presidente reviu sua posição no ano passado e anunciou o apoio militar aos que lutam contra Assad. Do outro lado, o regime sírio conta com o apoio da Rússia.

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O candidato democrata à presidência americana, Barack Obama, e a senadora Hillary Clinton viajam para Unity, em New Hampshire, onde farão o 1º comício conjunto. 27/06/2008 Foto: Alex Brandon/AP

“Alguém fingirá surpresa se os relatos de ação militar russa em favor de Assad se revelarem verdadeiros? Quais são exatamente os aspectos do desempenho de Obama em relação à Síria nos últimos quatro anos que dissuadirão o presidente russo, Vladimir Putin, de fazer esse movimento?”, perguntou em artigo na revista Foreign Policy o embaixador Frederic Hof, que foi responsável por assuntos relativos à Síria no Departamento de Estado de 2009 a 2011, no primeiro mandato de Obama.

Donald Trump, que lidera as pesquisas presidenciais entre os republicanos, responsabilizou o democrata pela crise de refugiados. “Isso foi iniciado pelo presidente Obama, que não entrou e fez o trabalho que deveria ter feito quando traçou a linha na areia (sobre o uso de armas químicas por Assad), que acabou se revelando uma linha artificial”, afirmou Trump. 

Apesar das críticas, Trump se disse favorável ao recebimento de refugiados, antes de a Casa Branca anunciar a intenção de aceitar 10 mil pessoas. “Odeio a ideia, mas por questão humanitária, nós temos de fazer”, disse em entrevista à Fox News.

Veja as iniciativas de outros países 

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