EUA ajudaram a equipar caças chineses

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Por Agencia Estado
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Os dois caças chineses Jianjii/J-8/II, que interceptaram o avião espião EP-3E, da Marinha americana, estavam equipados com poderosos recursos eletrônicos americanos fornecidos secretamente entre 1984 e 1991 por meio do programa Pérola da Paz, segundo revelou à Agência Estado um ex-assessor militar do Comando Sul do Pentágono. Um consórcio de empresas do setor aeroespacial dos Estados Unidos assumiu o contrato, financiado por uma linha especial de crédito de valor não revelado. Um programa de modernização previsto para 1995 nunca foi executado. O conjunto fabricado pelos grupos Grumman, Westinghouse e Litton compreende visor digital de combate, computador de ataque sistema de coordenação de tiro, radar de interceptação e um avançado software para decodificação de contramedidas eletrônicas, a forma de cobertura usada pelo turboélice dos EUA para escapar à defesa aérea da China. "Graças a esse sofisticado olho eletrônico os supersônicos conseguiram romper o círculo de sinais de cobertura emitidos pelo EP-3E que deveriam impedir sua localização", disse o ex-assessor do Comando Sul do Pentágono. O choque entre as duas aeronaves foi conseqüência de um perigoso jogo travado entre pilotos militares no mundo inteiro. É chamado "gato-e-rato" no Brasil, "KAS" (abreviatura da expressão popular kiss my ass) nos EUA e "pagliacci" na Itália. Funciona assim: o avião invasor, como foi classificado pela Força Aérea da China o quadrimotor EP-3E da Marinha dos EUA é interceptado pelos caças da defesa aérea do território invadido, que a princípio devem apenas monitorá-lo. Isso pode ser feito virtualmente fora do alcance visual, em uma faixa de 15 quilômetros. Mas com raras exceções os guerreiros a bordo dos supersônicos atiram-se sobre o alvo em manobras agressivas a curta distância. "O objetivo é intimidar o inimigo potencial, mostrar competência em combate" explica um oficial da Força Aérea Brasileira, que integrou o quadro de pilotos da base aérea de Anápolis, em Goiás, onde estão estacionados os supersônicos brasileiros Mirage IIIE/BR. Ele participou em 1988 de uma interceptação real na área de tráfego controlado que envolve Brasília: "o bandido era estrangeiro, vinha do Cone Sul, e se fez de morto aos sinais de rádio - quando viu que estávamos a cinco metros dele na ala direita quase se atirou no chão de susto..." De acordo com o oficial, os grandes J-8 (21,4 metros de comprimento, velocidade mach 2,2 dotados de canhões e mísseis) devem ter tentado colocar o pesado avião americano de observação em uma espécie de roda, com passagens cada vez mais próximas. "E sem dúvida em um desses dribles o piloto dos EUA revidou, ou o chinês cometeu um erro de avaliação." O desenvolvimento dos caças chineses Janjii, renominados F-8 na aviação militar ocidental, começou em meados dos anos 60 e chegou à configuração atual em 1982. Pobres em aviônicos (os componentes eletrônicos dos aviões), foram envolvidos no programa "Pérola da Paz" por meio do qual o governo dos Estados Unidos pretendia contribuir para o equilíbrio de forças entre a China e a então União Soviética. O arranjo de equipamentos definido em 1984 acabou incluindo o avançado radar AN/APG 66, utilizado pela força aérea americana. Pelo menos 50 caças da aviação frontal da China receberam o conjunto completo. Domingo, dois deles estavam no Mar da China.

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