
07 de agosto de 2014 | 17h49
WASHINGTON - O presidente Barack Obama autorizou na quinta-feira, 7, aviões americanos a lançarem ajuda humanitária com paraquedas a cerca de 40 mil integrantes de minorias religiosas cercados no nordeste do Iraque por militantes do Exército Islâmico no Iraque e no Levante (Isil, na sigla em inglês). Ele considerava a realização de bombardeios para conter o avanço dos rebeldes, que ontem assumiram o controle da maior hidrelétrica iraquiana.
Sem acesso a água e alimentos, o grupo isolado em montanhas próximas da cidade de Sinjar enfrenta uma crise que já provocou a morte de 40 crianças, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Muitos dos refugiados pertencem à minoria yazidi – considerada herege pelo Isil – e fugiram quando os militantes avançaram sobre Sinjar no fim de semana, provocando o êxodo de milhares de pessoas.
Os militantes do Isil são sunitas radicais, que ameaçam de morte todos os que não se converterem a sua linha do islamismo. O objetivo do grupo é formar um califado em um território que cruza a fronteira entre a Síria e o Iraque.
Sinjar fica na região do Iraque controlada pelos curdos e parecia imune ao avanço do Isil em razão do Exército local, conhecido como pershmerga. Fontes curdas e iraquianas disseram ao New York Times que posições ocupadas pelos radicais sunitas foram bombardeadas por forças americanas. Oficiais do Pentágono negaram a informação, mas declararam ao jornal que os ataques podem ter sido realizados por iraquianos ou turcos.
Segundo a rede CNN, cargueiros americanos protegidos por jatos de caça começaram na noite de quinta-feira a lançar com paraquedas água e alimentos aos milhares de isolados pelo Isil no nordeste do Iraque. A emissora também afirmou que cerca de 40 conselheiros militares americanos estão em Irbil, capital da região controlada pelos curdos, e sua segurança estará ameaçada em um cenário no qual o Isil continue a avançar.
Obama enfrenta pressão crescente para intervir militarmente no conflito e ajudar o governo do primeiro-ministro Nuri Maliki a conter o avanço dos radicais sunitas. Em briefing a jornalistas no início da tarde, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, ressaltou que uma eventual ação militar não contemplaria a entrada de tropas no país, seria limitada e atenderia a objetivos centrais dos EUA.
A operação seria a primeira incursão militar dos EUA no Iraque desde a saída de tropas do país em 1.º de janeiro de 2012, depois de uma guerra que durou nove anos. O encerramento do conflito foi uma das principais promessas de campanha de Obama, que chegou à Casa Branca em 2009.
Os EUA perderam 4.400 soldados no Iraque, em um confronto que custou ao país pelo menos US$ 1 trilhão – o valor real pode subir a US$ 1,7 trilhão, se incluídos gastos médicos com veteranos. Obama gostaria de ter deixado tropas no país depois de declarar o fim oficial da guerra, mas não conseguiu chegar a um acordo com o governo de Bagdá sobre uma questão crucial: a garantia de que os militares não estariam sujeitos às leis iraquianas.
Esse é um dos pontos do pacto que os EUA tentam fechar com o Afeganistão para permitir que 9,8 mil soldados permaneçam no país após o fim do combate, em dezembro.
Em 13 de junho, três dias depois de o Isil tomar a segunda maior cidade iraquiana, Obama anunciou que estudava opções para apoiar Bagdá, mas condicionou qualquer ajuda a mudanças políticas que ampliassem a representatividade do governo, com a inclusão de sunitas, curdos e outros grupos. Até quinta-feira, a única concessão feita por Obama havia sido o envio de 300 conselheiros militares para assessorar as forças iraquianas, anunciado no dia 19 de junho. No poder desde 2006, Maliki é xiita e tem no Irã um de seus principais aliados externos. Na avaliação da Casa Branca, sua administração privilegiou os xiitas.
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