EUA assinam lei que limita acesso da Nicarágua a empréstimos de organismos multilaterais
Decisão aumenta pressão sobre o governo do presidente Daniel Ortega, acusado de repressão à população
Por Redação
Atualização:
WASHINGTON - O presidente americano, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira, 20, uma lei conhecida como “Nica Act” (Lei de Condicionalidade do Investimento da Nicarágua), que limita o acesso de Manágua a empréstimos de organismos multilaterais e aumenta a pressão sobre o governo do líder Daniel Ortega, acusado de repressão à população.
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"Em um momento em que o povo da Nicarágua sofre há 8 meses a repressão de Ortega e seus cúmplices, o presidente promulgou minha #NICAAct para fazer o regime prestar contas", disse a congressista republicana Ileana Ros-Lehtinen, promotora da iniciativa.
O jornalista Carlos Fernando Chamorro, crítico ferrenho de Ortega, considerou que "estamos em uma crise terminal". Para ele, o presidente levou o país para "o precipício (...), destruindo a economia e a convivência, e só pode se manter pelo terror".
A polícia revistou e ocupou as redações do jornal digital Confidencial e seus programas de televisão “Esta Semana” e “Esta Noche”, de Chamorro.
Economia em apuros
Ex-guerrilheiro de 73 anos que ajudou a derrubar a ditadura de Anastasio Somoza em 1979, Ortega descartou antecipar as eleições de 2021 para 2019, como propuseram os bispos católicos durante a mediação de um frustrado diálogo com a oposição.
Ele também se negou a fazer reformas institucionais para sair da crise política que, em oito meses, deixou mais de 320 mortos, centenas de detidos e milhares de refugiados em países vizinhos.
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Uma economia que projetava um crescimento de 4,9% para este ano se contrairá 4% pela crise, segundo o Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep), que fala em perdas milionárias, além do fechamento de mais de 7 mil pequenos e médios negócios e da perda de mais de 400 mil vagas de trabalho. De acordo com empresários, em 2019 a economia se contrairá 11% se não houver uma saída para a crise política.
No governo desde 2007, Ortega é acusado de corrupçãopor seus adversários e de instalar uma ditadura ao lado de sua mulher, Rosario Murillo, que é vice-presidente. O governo "está totalmente isolado, mas eles (Ortega e Rosario) negam a realidade, dizendo que está tudo bem, que vai haver um Natal maravilhoso, e isso não pode continuar assim", afirmou o cientista político José Peraza.
A crise na Nicarágua em imagens: 100 dias de protestos
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Nicarágua 1
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A maior reclamação era de que as medidas não evitariam a falência do INSS e aumentariam o desemprego e a informalidade, diminuindo o consumo e a compe... Foto: AFP PHOTO / INTI OCONMais
Nicarágua 3
Já nas primeiras ocasiões, a imprensa foi censurada. O canal 100% Noticias, que transmitia os protestos ao vivo, foi retirado do ar. Em um protesto no... Foto: Jorge Torres/EPA/EFEMais
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O governo do presidente Daniel Ortega culpou "pequenos grupos de oposição" de serem os responsáveis pela revolta. No dia 22 de abril, ele revogou a re... Foto: EFE/Jorge TorresMais
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Em 23 de abril, o número de mortos subiu para 31, quando policiais invadiram a Universidade Politécnica da Nicarágua e mataram quatro estudantes. Nest... Foto: EFE/Paolo AguilarMais
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Nicarágua 7
Além das 34 mortes, 66 pessoas feridas estavam internadas e, destas, 12 apresentavam estado crítico de saúde. Dos mortos, a maioria recebeu tiros na c... Foto: REUTERS/Jose CabezasMais
Nicarágua 8
Em 6 de maio, o número de mortos estava em 45 e o Parlamento - dominado por partidários de Ortega - criou uma comissão para investigar as mortes. Grup... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 9
Após 24 dias desde o início dos protestos, 50 pessoas haviam morrido, segundo as ONGs. Em 11 de maio, 21 estudantes foram intoxicados enquanto partici... Foto: Oswaldo Rivas/ReutersMais
Nicarágua 10
Em 17 de maio, cerca de 60 mortes haviam sido registradas e o número de feridos estava em 500. Neste momento, a Comissão Interamericana de Direitos Hu... Foto: AFP PHOTO / DIANA ULLOAMais
Nicarágua 11
No início de junho, 114 pessoas haviam morrido, incluindo um estrangeiro. A cidade de Masaya, que fora reduto dos rebeldes na década de 80, havia se t... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 12
Em 16 de junho, cerca de 200 mortes eram contabilizadas. Governo e oposição fizeram um acordo para que organizações internacionais verificassem as fat... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais
Nicarágua 13
Em 7 de julho, Ortega declarou que não anteciparia as eleições, o que elevou as tensões pelo país e motivou mais protestos.Barricadas foram levantas p... Foto: EFE/Bienvenido VelascoMais
Nicarágua 14
Quatro dias depois, em 11 de julho, a CIDH calculava em 264 o número de mortes e em 1,8 mil o número de feridos.A Igreja havia retomado a mediação dos... Foto: Mais
Nicarágua 15
Em 16 de julho, as mortes se aproximavam de 300 e a situação piorou quando grupos armados pró-governo e policiais começaram a cercar universidades ocu... Foto: Mais
Nicarágua 16
Em 17 de julho, o Parlamento aprovou uma lei sobre terrorismo que, segundo a ONU, poderia ser utilizada para criminalizar protestos pacíficos. No mesm... Foto: AP Photo/Alfredo ZunigaMais
Nicarágua 17
Na ocasião moradores ergueram barricadas de até dois metros de altura para se proteger. Trinta e sete caminhonetes cheias de agentes da polícia antimo... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 18
Em 20 de julho, no aniversário da Revolução Sandinista,Ortega pediu aos manifestantes para acabar com que considera uma tentativa de "desestabilizar o... Foto: REUTERS/Oswaldo Rivas TPX IMAGES OF THE DAYMais
Nicarágua 19
Ainda em 21 de julho, dezenas de mães que procuravam seus filhos presos ou desaparecidosforam expulsas por agentes do governo e ameaçadas com armas de... Foto: Marvin Recinos / AFPMais
Nicarágua 20
Em 23 de julho, a estudante universitária brasileiraRaynéia Gabrielle Lima foi morta a tirosquando voltava para casa depois de um plantão hospitalar n... Foto: Reprodução / FacebookMais
Nicarágua 21
A comunidade internacional voltou a pressionar Ortega e pedir eleições antecipadas.O Brasil condenou a morte da estudante, pediu que o caso seja inves... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais
No fim de novembro os EUA aumentaram a pressão contra o governo de Ortega, com sanções econômicas contra dois altos funcionários, Rosario Murillo e o assessor de Segurança Nacional, Néstor Moncada.
Segundo o governo americano, quando as sanções foram aprovadas, o objetivo era “responsabilizar o regime de Ortega pelos protestos violentos e a corrupção generalizada que levou à morte de centenas de nicaraguenses inocentes”. / AFP