12 de maio de 2011 | 15h09
A morte do chefe da Al Qaeda em uma operação dos EUA em 2 de maio tensionou as relações entre Washington e Islamabad, com a suspeita por parte dos EUA de que o Paquistão sabia onde Bin Laden estava escondido, enquanto o Paquistão está indignado com a operação militar, que vê como violação de sua soberania.
Os ataques com aviões não tripulados também provocam a ira de muitos paquistaneses e são uma fonte de atritos entre os dois países aliados. O Paquistão faz objeção oficial aos ataques, apesar de autoridades norte-americanas dizerem que eles são realizados graças a um entendimento com o Paquistão.
De acordo com autoridades paquistanesas, um avião não tripulado disparou mísseis contra um veículo na região do norte do Uaziristão que se dirigia para a fronteira afegã, matando oito militantes.
"Pelo menos quatro aviões não tripulados ainda estavam sobrevoando a região", disse um dos funcionários paquistaneses, que se negou a ser identificado.
A CIA regularmente lança ataques com seus aviões sem pilotos contra militantes nas terras tribais pashtus que atravessam a fronteira do Afeganistão para combater forças ocidentais na região.
Mas o terceiro ataque desse tipo desde a morte de Bin Laden assinalou uma intensificação dos ataques, em comparação com as semanas anteriores à morte do militante saudita.
A operação militar norte-americana na mansão em que vivia Bin Laden constrangeu e enfureceu os militares paquistaneses e intensificou a tensão nas relações entre os dois países.
Autoridades paquistanesas disseram que o país provavelmente receberá 300 milhões de dólares dos EUA para pagamento dos custos da luta contra os militantes, apesar de parlamentares norte-americanos questionarem a ajuda dos EUA ao Paquistão, depois que Bin Laden foi encontrado naquele país. Alguns pediram que seja suspensa a assistência dada pelos EUA a Islamabad.
Os EUA pagaram ao Paquistão 7,4 bilhões de dólares desde 2001, quando os paquistaneses se juntaram à campanha liderada pelos norte-americanos contra a militância.
O Paquistão rejeita alegações de que ou teria sido incompetente em rastrear o responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, ou teria tido cumplicidade em ocultá-lo na cidade de Abbottabad, a apenas 50 quilômetros da capital Islamabad.
Os EUA querem interrogar as três esposas de Bin Laden, que foram encontradas em seu esconderijo após a operação da semana passada e estão sob custódia do Paquistão, mas o país ainda não permitiu que elas sejam interrogadas.
CRÍTICAS INTERNAS
A morte de Bin Laden também provocou críticas internas ao governo e às forças armadas do Paquistão, tanto pelo fato de Bin Laden ter podido viver no país aparentemente sem ser detectado, quanto pela operação secreta norte-americana.
O líder oposicionista e ex-premiê Nawaz Sharif acusou a poderosa agência de espionagem das forças armadas de negligência e incompetência.
Sharif, que lidera o maior partido da oposição, rejeitou uma decisão do governo de colocar um general do exército à frente de um inquérito sobre os lapsos de inteligência que levaram à morte de Bin Laden, pedindo em vez disso a criação de uma comissão judicial, para desfazer as dúvidas quanto à objetividade da investigação.
As forças especiais norte-americanas que chegaram do Afeganistão de helicóptero para matar Bin Laden não foram detectadas pelas forças paquistanesas.
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