EUA atacarão mesmo que Iraque se desarme

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Por Agencia Estado
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O cumprimento pelo Iraque das determinações de desarmamento do Conselho de Segurança das Nações Unidas não será suficiente para evitar a invasão do país pela força de 225 mil soldados americanos e ingleses que estão prontos para entrar em ação no Golfo Pérsico. Numa declaração que confirmou a intenção do presidente George W. Bush de ignorar a provável derrota que sofrerá em sua tentativa de aprovar uma nova resolução do Conselho de Segurança, que legitime uma guerra contra o Iraque, a Casa Branca anunciou no fim de semana que a única maneira de evitar uma solução de força é o desarmamento do Iraque e a deposição de Saddam Hussein, o ditador do país. Ao longo das últimas semanas, os Estados Unidos já mudaram mais de uma vez a razão para justificar um ataque contra o Iraque. Ao objetivo inicial de obrigar o país a submeter-se às ordens da ONU para desfazer-se de armas prescritas, que foram aceitas por Bagdá como parte de sua rendição incondicional no final da Guerra do Golfo, em 1991, a administração Bush acrescentou recentemente a construção de uma democracia no Iraque. Esta meta, dificílima de ser atingida numa região onde não existe tradição democrática, é vista com suspeita nos EUA mesmo por aqueles que a apóiam, dada a falta de apetite de Bush e da sociedade americana para arcar com os custos financeiros e políticos da ocupação prolongada do Iraque, que seria necessária para transformá-la em realidade. A nova condição de Washington para evitar a guerra foi explicada na sexta-feira pelo porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer. Perguntado se o critério de Bush vai além do das Nações Unidas, que representada a lei internacional, Fleischer deixou claro que sim. O Iraque precisa "desarmar-se completa e totalmente" e os líderes do país têm que "ir para o exílio". Diante da insistência de um repórter, que lembrou que a resolução 1441 ordena apenas o "desarmamento", o porta-voz foi taxativo. "O objetivo do presidente (Bush) é o desarmamento e a mudança do regime", disse ele. A declaração foi feita depois que a Rússia somou-se à ameaça das França de vetar a nova resolução que os EUA, a Inglaterra e a Espanha propuseram ao Conselho de Segurança para tentar dar legitimidade internacional a uma ação punitiva contra o Iraque. De acordo com fontes diplomáticas, Paris já decidiu vetar a resolução, se ela alcançar o apoio mínimo necessário de nove dos quinze países membros do Conselho de Segurança para ser submetida à votação. "O governo francês concluiu que os EUA irão à guerra com ou sem resolução e recusa a deixar-se usar numa farsa", disse uma fonte. A nova exigência americana torna irrelevante o processo de inspeção de armas pela ONU, que Washington ajudou a reiniciar, pois nega significado prático à decisão do Iraque de destruir os mísseis de médio alcance de seu arsenal, no fim da semana, e esvazia por antecipação o valor de quaisquer progressos que os chefes dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix e Mohamed ElBaradei, possam apresentar ao Conselho de Segurança, em relatório previsto para a próxima sexta-feira.

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