PUBLICIDADE

EUA cobram coerência diplomática do Brasil

Na visão americana, governo brasileiro deveria apoiar diálogo no caso palestino, como fez com Líbia e Síria

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Na questão do Estado palestino, o Brasil não está utilizando o mesmo critério que orientou sua posição em relação aos conflitos na Líbia e na Síria. Enquanto insistiu numa saída negociada naqueles dois países, o Brasil está apoiando uma ruptura das negociações e uma iniciativa unilateral por parte da Autoridade Palestina.

 

PUBLICIDADE

Veja também:lista Leia a íntegra da fala de Dilmaforum ENQUETE: Você concorda?blog AO VIVO: Os discursos na AGtabela HOTSITE: A busca pelo Estado blog GUSTAVO CHACRA: O Estado palestinolista ENTENDA: O que os palestinos buscam na ONU
especialESPECIAL: As disputas territoriais no Oriente Médio

Essa é a visão do governo americano em relação à posição assumida ontem pela presidente Dilma Rousseff na abertura da Assembleia-Geral da ONU, segundo fontes ouvidas pelo Estado.

"O governo brasileiro é muito cauteloso e está estudando a questão", disseram as fontes, referindo-se à eventual votação do reconhecimento do Estado palestino no Conselho de Segurança da ONU, do qual o Brasil é membro rotativo. "Achamos que o Brasil deve atuar da mesma forma que nos outros casos." As fontes lembraram que o Brasil se opôs à forma como foi aplicada a Resolução 1.973, que autorizou a zona de exclusão aérea na Líbia, e também a sanções mais duras contra a Síria, em ambos os casos por considerar a solução negociada preferível.No caso palestino, a declaração "unilateral" do Estado cria o "perigo bastante real" de um conflito, argumentaram as fontes. "O outro lado (Israel) não vai aceitar e vai considerar que os palestinos não têm interesse em negociar", disseram. "Além disso, (a proclamação do Estado) vai elevar muito as expectativas na comunidade palestina." Segundo as fontes, "o mais provável é que não vai ajudar, e existe o risco verdadeiro de se perder o controle sobre o desejo da população palestina".As fontes citaram o exemplo da explosão de ódio contra Israel no Egito, desencadeada pela morte de cinco guardas de fronteira egípcios em uma ação militar israelense de retaliação a um atentado em 18 de agosto. "Temos o exemplo do Cairo", compararam. "Não ajudou em nada. O governo do Egito não acha que foi positivo", disseram, referindo-se à invasão e depredação da embaixada israelense no Cairo. As fontes ponderaram que os Estados Unidos e o Brasil "compartilham o mesmo desejo de ver dois Estados (Israel e Palestina) respeitando a segurança e a soberania um do outro". Mas divergem sobre o meio de se chegar a isso. "Compreendemos que o Brasil reconhece o Estado palestino. Isso é uma coisa. Outra coisa é apoiar no Conselho de Segurança uma ação que não vai ter êxito e pode ser contraproducente."As fontes disseram que a atuação do Brasil na discussão da situação da Síria no Conselho de Segurança, no início de agosto, foi positiva. "Nós queríamos ver uma movimentação maior no Conselho, mas o Brasil trabalhou por uma solução de compromisso, e encontrou um ponto de equilíbrio." Da mesma forma, os americanos esperam agora que o Brasil "atue para ajudar e não para criar uma situação mais perigosa".As fontes confirmaram que o assunto não foi abordado no encontro entre o presidente Barack Obama e Dilma, na terça-feira. Mas garantiram que diplomatas americanos continuam discutindo com os brasileiros e outros membros do Conselho a votação do reconhecimento do Estado palestino - se ela ocorrer.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.