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EUA consideram anunciar nesta sexta restrição de voos do Brasil

O governo americano está planejando anunciar nesta sexta-feira a restrição de entrada de voos vindos do Brasil, segundo duas fontes do governo americano relataram ao 'Estadão'

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O governo americano está planejando anunciar nesta sexta-feira, 22, a restrição de entrada de voos vindos do Brasil, segundo duas fontes relataram ao Estadão. A restrição de voos com origem no Brasil já vinha sendo discutida dentro do governo nas últimas semanas e, nesta sexta-feira, ganhou contornos oficiais no Departamento de Estado e na Casa Branca. Cabe ao presidente Donald Trump, agora, confirmar sua decisão final. A chamada de uma entrevista coletiva sem previsão na agenda fez com que fontes que acompanham o tema considerassem que Trump poderia fazer o anúncio ele mesmo, mas o presidente fez um rápido pronunciamento de poucos minutos, sem entrar no assunto dos voos. Trump tem evitado críticas ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de quem é um aliado, mas o aumento de casos de coronavírus no Brasil tem sido apontado como um problema pelo americano.

Anúncio foi feito pelo governo Trump no dia que marca o quarto aniversário do massacre na boate gay Pulse, em Orlando Foto: Brendan Smialowski/AFP

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Nas últimas semanas, Trump ameaçou ao menos duas vezes cancelar a entrada de voos do Brasil, por causa do aumento de infecções pelo coronavírus no País. "Estamos considerando", disse Trump na última terça-feira, 19, ao ser questionado por um jornalista se cogita impor uma restrição aos voos brasileiros pelo fato de o País estar em terceiro lugar na lista mundial de maior número de casos de covid-19, perdendo apenas para EUA e Rússia. "Eu não quero pessoas entrando e infectando nosso povo."

Nesta semana, a possibilidade de limitar a entrada de brasileiros foi mencionada pela primeira vez pelo vice-presidente, Mike Pence, que é também chefe da Força Tarefa da Casa Branca para combate ao coronavírus.

Atualmente, há 13 voos semanais em operação entre Brasil e EUA, sendo 6 para o Estado da Flórida e outros 7 para Houston, no Texas. Com a medida, as empresas podem continuar a operar as rotas, se desejarem, mas há restrição de quem pode entrar no país. A medida desenhada pela diplomacia americana é semelhante à imposta aos países europeus, em que apenas americanos ou estrangeiros com residência permanente nos EUA estariam autorizados a entrar nos EUA quando estiverem em um voo procedente do Brasil. Nesta semana, Trump anunciou, sem detalhes, que os EUA estão enviando respiradores ao Brasil. "Eu também não quero as pessoas de lá doentes. Estamos ajudando o Brasil com respiradores, eles precisam de respiradores e estou enviando a eles. Temos tantos milhares de ventiladores, estamos enviando a eles. Brasil está tendo problema, sem dúvida, sobre isso", afirmou Trump.

Uma fonte do alto escalão da Casa Branca informou que Trump tem dito a países aliados que os EUA aumentaram a produção de respiradores e, com isso, estão aptos a vender os equipamentos a parceiros. O aviso de que os países podem comprar os respiradores se quiserem não foi apenas ao Brasil. Trump teria falado o mesmo a autoridades da Bolívia, Equador, França, Índia, Indonésia, Itália, Quênia, Paquistão, Paraguai, Filipinas, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha e Reino Unido.

Flórida já havia pensado em suspensão

A possibilidade de suspender a chegada de voos vindos do Brasil já foi ventilada por Trump no fim de abril, quando o presidente americano questionou o governador da Flórida, Ron DeSantis, se ele desejava impor a restrição já que o Brasil vivia um "grande surto".

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Na ocasião, De Santis afirmou que não seria necessário adotar a medida. Dois dias depois, Trump disse que o número de mortes no Brasil estava "muito alto" e em trajetória vertical.

Há pressão interna para que o aumento de casos no Brasil não piore a situação do combate ao vírus nos EUA. Em entrevista ao Estadão, o prefeito de Miami, Francis Suarez, disse ser favorável à imposição de uma restrição. "O Brasil é obviamente um dos locais com grande número de infectados", afirmou Suarez.

Ainda em abril, o governo brasileiro fez movimentos de bastidores para desfazer dentro do governo dos EUA uma possível má impressão sobre a situação da pandemia e evitar o bloqueio de voos.

Desde então, o número de voos do Brasil aos EUA subiu de 9 para 13, sendo que a maioria tem a Flórida como destino. O governo brasileiro argumenta que há poucos passageiros que viajam aos EUA e os voos têm se destinado, majoritariamente, a trazer brasileiros de volta ao País e ao transporte de carga.

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Trump é tido pelo governo Bolsonaro como principal aliado no cenário político internacional. Ao ser questionado sobre a situação do Brasil, ele evita críticas à gestão de Bolsonaro, que internacionalmente tem sido apontado por analistas e imprensa estrangeira como um dos piores líderes na condução da resposta à crise. 

Os EUA são, no momento, o epicentro mundial da pandemia. Como Bolsonaro, Trump demorou a articular em nível federal uma resposta à crise, deixando a condução das medidas de isolamento inicialmente para os governadores. No dia 16 de março, no entanto, o presidente americano passou a defender o plano de diretrizes federais para fechamento de comércio, escolas e distanciamento social.

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