EUA devem tentar acalmar crise entre Índia e Paquistão

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Por Agencia Estado
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Os Estados Unidos vão lançar esta semana o seu peso diplomático numa campanha internacional para tentar abrandar a tensão entre a Îndia e o Paquistão. Washington vai enviar à região o vice-secretário de Estado, Richard Armitage, e, posteriormente, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. Para os Estados Unidos a possibilidade de guerra entre os dois rivais do sul da Ásia é um quebra-cabeça diplomático que vai requerer um equilíbrio constante devido à guerra no Afeganistão. Os Estados Unidos querem o apoio do Paquistão e a crescente "parceria estratégica" com a Índia. O apoio do Paquistão aos Estados Unidos continua sendo de importância vital para garantir apoio na fronteira com o Afeganistão e na luta contra os grupos extremistas da Al Qaeda e Taleban que operam ainda em território do Paquistão. Mas, ao mesmo tempo, Washington tem vindo no último ano a estabelecer crescentes relações com a Îndia que, embora passem despercebidas à maior parte do público, constituem um sinal claro da "parceria estratégica". Forças navais dos Estados Unidos e da Índia patrulham atualmente em conjunto o estreito de Malaca. As duas partes recomeçaram recentemente o comércio militar, quando os Estados Unidos venderam um sistema de radar "Firefinder" à Îndia. Washington e Nova Déli assinaram um Acordo de Segurança de Informação Militar que visa a cooperação em tecnologia militar e estão também a realizar "seminários" periódicos sobre sistemas de defesa antimíssil. Por outro lado, os dois países fizeram recentemente exercícios militares conjuntos de forças especiais em Agra, na Índia. Além disso, um comitê conjunto de informação e luta anti- terrorista reúne-se periodicamente, sendo que o próximo encontro está prev isto para julho ou agosto deste ano. A decisão de enviar Rumsfeld à região depois da visita de Armitage reflete o peso das relações militares que Washington mantém com as duas partes. Analistas diplomáticos avisam que os Estados Unidos terão que manter um equilíbrio constante nas suas tentativas para acalmar a situação. "Tentativas de qualquer das partes de obter apoio americano devem ser rejeitadas," disse Dana Dillon, uma especialista em relações entre os Estados Unidos e a Îndia o Paquistão, da Heritage Foundation, centro de estudos conservador com base em Washington. "Caso contrário, se não houver vontade de compromisso, Washington corre o risco de alienar ambas as partes e afetar negativamente a posição americana na região", acrescenta a especialista. Dentro desta linha de pensamento, os Estados Unidos rejeitam para já a possibilidade de servir de mediador no conflito sobre a Caxemira ou de apresentar possíveis planos para a solução dessa questão. Numa entrevista a uma cadeia de televisão, este fim de semana, o secretário americano de Estado, Colin Powell, disse que a questão da Caxemira "é um assunto que deve ser discutido pelas duas partes". "Não penso que nesta altura haja um papel para um mediador estrangeiro, pois é uma questão que tem ser resolvida pelas duas partes," disse Powell. Ele concordou, entretanto, que diplomatas de potências de fora da região "podem desempenhar um papel de ajuda para o início de um diálogo". Powell sublinhou que os esforços norte-americanos estão sendo feitos em conjunto com a União Européia - que enviou recentemente o comissário de Relações Externas, Chris Patten, à região -, com a Grã-Bretanha, que tem grande peso diplomático na região, e com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que vai se encontrar com os dirigentes dos dois países esta semana numa reunião de cúpula regional. Fontes diplomáticas norte-americanas manifestaram sua apreensão com a possibilidade de uma guerra envolvendo armas nucleares. "É como se os dois países não tivessem consciência da terrível e horrível destruição que essas armas podem causar", disseram as fontes. Acrescentaram que a Índia tem pronto um plano de ataque à Caxemira paquistanesa, envolvendo tropas terrestres apoiadas pela força aérea, para eliminar alvos ligados a organizações "terroristas" que operam na Caxemira indiana a partir do Paquistão. Colin Powell disse não ter recebido do Paquistão ou da Índia qualquer tipo de garantia de que armas nucleares não seriam usadas, mas acrescentou que "o fato de não ter recebido garantias não significa que as armas nucleares venham a ser usadas". "Eu penso, contudo, que ambos os dirigentes compreendem as consequências graves associadas com o uso de armas nucleares no caso de uma guerra que se inicie como um conflito convencional," acrescentou.

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