EUA dizem que enforcariam Saddam de forma diferente

Norte-americanos afirmam que Iraque deveria tirar proveito do acontecido

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Por Agencia Estado
Atualização:

As forças dos Estados Unidos não participaram do enforcamento de Saddam Hussein, mas se fosse o caso teriam feito diferente, disse na quarta-feira um general dos norte-americano, enquanto investigadores iraquianos interrogavam um guarda a respeito de um vídeo em que autoridades aparecem humilhando verbalmente Saddam no cadafalso. Mowaffaq Al Rubaie, assessor de Segurança Nacional do Iraque, disse que a comissão que investiga a gravação ilícita do enforcamento estava ouvindo um dos guardas na prisão em que Saddam foi enforcado, ao amanhecer de sábado. Há rumores de que os outros dois réus condenados no mesmo caso que Saddam, inclusive seu meio-irmão Barzan, seriam enforcados na madrugada de quinta-feira. Rubaie disse que a data não está marcada. A Casa Branca disse que o presidente George W. Bush não viu o vídeo. O general William Caldwell pediu ao governo iraquiano que preste atenção aos sunitas, para quem a execução e o vídeo são golpes contra os esforços do governo liderado pelos xiitas em busca da reconciliação nacional. Caldwell disse que os EUA, que por três anos vigiaram fisicamente Saddam, deixaram a cargo do Iraque todas as providências relativas à execução do ex-ditador, inclusive os critérios de acesso ao local. "Se estivéssemos fisicamente a cargo naquela altura, teríamos feito as coisas de forma diferente", disse Caldwell em entrevista coletiva. Para ele, o governo iraquiano "tem a oportunidade de tirar vantagem do que ocorreu e realmente sair em busca de atrair mais gente de volta ao processo político e de trazer os sunitas de volta", afirmou ele, defendendo menos restrições a ex-membros do Partido Baath, ao qual Saddam pertencia. O general disse que a violência no Iraque diminuiu devido ao feriado do Eid Al Adha, iniciado no sábado, mas que as forças dos EUA se preparam para um recrudescimento. Milhares de seguidores de Saddam saíram às ruas nesta semana em redutos sunitas para protestar contra a execução. Na quarta-feira, continuou o fluxo de visitantes ao seu túmulo, em Awja, sua aldeia natal. Em Falluja surgiram cartazes prometendo vingança pelo "mártir" Saddam. Rubaie disse que o vídeo, aparentemente gravado com um celular, foi feito por pessoas que tentam insuflar a tensão. "Quem vazou esse vídeo pretendia ferir a reconciliação nacional e provocar uma divisão entre xiitas e sunitas", disse Rubaie, uma das cerca de 20 pessoas que testemunharam a execução. Sadiq Al Rikabi, assessor do governo, disse que vários guardas foram interrogados e que os investigadores já identificaram um suspeito de ter filmado o enforcamento. Gravação não-autorizada O promotor Munkith Al Faroon, ouvido no vídeo pedindo ordem, disse à Reuters na terça-feira que dois funcionários graduados gravaram a cena, e não meros guardas, como alega o governo. A pressa em executar Saddam, apenas quatro dias depois do julgamento do recurso, e no primeiro dia do Eid, chocou muita gente no Iraque e no exterior. Uma importante fonte dos EUA disse ao New York Times que o primeiro-ministro do Iraque, Nuri Al Maliki, temia que Saddam conseguisse se livrar da forca se a execução demorasse mais. "Sua preocupação era a segurança, que talvez houvesse um seqüestro em massa para barganhar a libertação de Saddam Hussein", disse a fonte. Rubaie confirmou que havia essa preocupação. "A questão não é ´por que a pressa na execução´, e sim ´por que a demora"´, afirmou. "Tinha gente falando dos norte-americanos, dizendo que eles poderiam levá-lo para uma dessas ilhas controladas pelos Estados Unidos e exilá-lo por lá."

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