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EUA e China aliviarão restrições a jornalistas, enquanto Biden e Xi buscam arrefecer tensões

Acordo reverte políticas que restringiam severamente, há mais de um ano, viagens e acesso a informações a profissionais de imprensa de ambos os países

Por Lily Kuo
Atualização:

PEQUIM - China e Estados Unidos alcançaram um acordo para aliviar restrições a jornalistas de seus países trabalhando no território um do outro, marcando um dos primeiros avanços diplomáticos entre o governo Biden e Pequim no contexto da reunião virtual que os líderes dos países realizaram na última segunda-feira, 15, para evitar que as recentes tensões ascendam para um conflito.

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O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, afirmou na quarta-feira que, após várias rodadas de discussões, ambos os  lados chegaram ao acordo de suspender os limites de validade dos vistos dos jornalistas, revertendo políticas que restringiam severamente, havia mais de um ano, viagens e acesso a informações a profissionais de imprensa de ambos os países.

Horas depois de o presidente americano, Joe Biden, e o presidente chinês, Xi Jinping, se reunirem virtualmente na segunda-feira, o veículo de imprensa oficial chinês China Daily noticiou que seus governos chegaram ao acordo antes da reunião. Um porta-voz da Embaixada Americana em Pequim confirmou o relato, acrescentando que as autoridades dos EUA vinham pressionando havia meses por acessos e vistos para jornalistas que trabalham em meios de comunicação americanos instalados na China.

Em março de 2020, Pequim expulsou mais de uma dezena de jornalistas americanos a serviço do Wall Street Journal, do New York Times e do Washington Post, uma manobra que a China qualificou como resposta a restrições sobre profissionais de imprensa chineses trabalhando nos EUA.

Desde então, os meios de comunicação americanos em atividade na China não tinham conseguido novos vistos para seus jornalistas. Vistos de curta validade foram emitidos para os correspondentes já instalados no país, que ficaram impossibilitados de deixar o território chinês sem arriscar perder suas permissões de trabalho.

Segundo o novo acordo, jornalistas americanos na China e jornalistas chineses nos EUA poderão entrar e sair livremente dos países que trabalharem. De acordo com o porta-voz americano, a China se comprometeu a emitir vistos para “um grupo de repórteres dos EUA”, desde que os profissionais sejam qualificáveis segundo as leis e regulações chinesas. O porta-voz recusou-se a afirmar se os jornalistas expulsos poderiam retornar, mas afirmou que os meios de imprensa afetados pela manobra obteriam novos vistos para seus profissionais.

Jornais exibem foto de cúpula virtual entre os presidentes chinês, Xi Jinping, e americano, Joe Biden; países decidiram diminuir restrições a jornalistas Foto: Tingshu Wang/REUTERS

De acordo com o pacto, os EUA começarão a emitir múltiplos vistos de entrada e residência por um ano para jornalistas chineses, em vez dos vistos de 90 dias que lhes eram concedidos em razão das medidas “olho por olho, dente por dente” impostas pelo governo de Donald Trump,  num esforço para pressionar Pequim e os meios de imprensa estatais da China que operam nos EUA. Zhao afirmou que a China concederá múltiplos vistos de entrada e residência por um ano aos jornalistas americanos uma vez que as medidas relativas aos profissionais de imprensa chineses passarem a vigorar.

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“Esse avanço conquistado a duras penas para os interesses da mídia de ambos os países merece ser celebrado”, afirmou Zhao. “Louvamos este progresso, mas os consideramos simplesmente passos iniciais”, disse o porta-voz da Embaixada dos EUA, que falou sob condição de anonimato em acordo com a política oficial americana. “Continuaremos trabalhando para expandir o acesso a informações e melhorar as condições de trabalho para profissionais de meios de comunicação dos EUA e de outros países estrangeiros — e continuaremos a defender a liberdade de imprensa como reflexo dos nossos valores democráticos.”

Autoridades da China buscaram por anos restringir o trabalho de meios de comunicação estrangeiros em seu país, vigiando e detendo repórteres e suspendendo ou evitando emitir vistos como maneira de punir os profissionais considerados críticos demais a Pequim.

O governo Trump, em um esforço de reação, reduziu acentuadamente o número de vistos concedidos para cidadãos da China a serviço da mídia estatal do país entrarem nos EUA. Em resposta à expulsão dos jornalistas americanos, em março do ano passado, esses vistos foram limitados a 90 dias.

Sob o governo Biden — que, na segunda-feira, disse a Xi que “salvaguardas" são necessárias para garantir que a competição entre seus países não se torne um conflito — os diplomatas americanos começaram a retroceder em algumas dessas políticas, negociando com a China questões comerciais e ambientais. Alcançar um acordo sobre os vistos dos jornalistas foi visto como uma tarefa mais fácil, capaz de melhorar as chances de avanços em outras áreas.

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O Departamento de Estado dos EUA recusou-se a informar quantos vistos serão concedidos para os jornalistas americanos. Repórteres radicados na China afirmam que continuam a enfrentar restrições sobre seu trabalho. No ano passado, as autoridades chinesas detiveram a âncora de nacionalidade australiana Cheng Lei, que trabalhava para a mídia estatal chinesa, e posteriormente detiveram a jornalista Haze Fan, de nacionalidade chinesa, que trabalha para a Bloomberg News.

Na semana passada, a família da jornalista de nacionalidade chinesa Zhang Zhan — detida depois de filmar as dificuldade dos cidadãos de Wuhan sob lockdown, no início da pandemia — afirmou que ela provavelmente morrerá logo, como resultado de uma persistente greve de fome.

O acordo para permitir a entrada de mais jornalistas americanos na China ocorre dois meses antes de Pequim sediar a Olimpíada de Inverno de 2022. Anteriormente este mês, o Clube de Correspondentes Estrangeiros na China afirmou em um comunicado com base em relatos de meios de imprensa que repórteres têm tido o acesso impedido em eventos olímpicos, a entrada bloqueada em estádios e têm sido repreendidos por coberturas que mencionaram pedidos de boicote aos Jogos, em razão da situação dos direitos humanos da China.

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Em reposta, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês Wang Wenbin afirmou que o comunicado “não tem base em fatos”, acrescentando que a preparação da China para a Olimpíada de Inverno “segue o princípio da transparência”.

“Sempre recebemos bem meios de imprensa de todo o mundo para reportagens e coberturas”, afirmou ele. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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