PUBLICIDADE

EUA e Europa, o que mudou nos quatro anos de Trump

Ataques de Donald Trump à União Europeia enfraqueceram as relações transatlânticas; vitória de Joe Biden nas eleições não viraria necessariamente o jogo

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A relação transatlântica "quase morta" ainda pode ser salva? As disputas com os europeus que pontuaram a presidência de Donald Trump abriram uma lacuna difícil de superar, qualquer que seja o desfecho das eleições nos EUA, segundo analistas.

Para a Alemanha, alvo favorito do presidente dos Estados Unidos, o mandato termina como começou: com uma série de ataques do líder contra aquele país, considerado “mau pagador”, que teria tomado os Estados Unidos por “tolos”.

Bandeiras da União Europeia Foto: Yves Herman/Reuters

PUBLICIDADE

Com esses termos nada respeitosos, Donald Trump justificou sua decisão de retirar cerca de 12.000 militares dos EUA da Alemanha.

E Berlim, que tradicionalmente foi um dos aliados mais próximos de Washington no Velho Continente, se acostumou a ser alvo das provocações do presidente americano.

Antes mesmo de assumir o cargo, Donald Trump criticou abertamente a Alemanha e Angela Merkel por sua política de imigração, superávit e gastos militares, que considerou insuficientes.

Além da Alemanha, é o diálogo com a União Europeia que não parou de se deteriorar. "A relação transatlântica está quase morta", disse à AFP Sudha David-Wilp, do centro de estudos German Marshall Fund, dos Estados Unidos.

“O presidente republicano mostra abertamente seu desprezo pela UE, nunca antes um presidente americano chamou a UE de adversária”, observou o analista.

Publicidade

A sequência de tweets, discursos e decisões que geraram inquietação na Europa é longa: críticas à OTAN, retirada do acordo climático de Paris, denúncia do acordo sobre o programa nuclear iraniano, guerras comerciais com várias ameaças de tarifas, suporte para Brexit e outros.

Com Berlim, os pontos de discórdia não são apenas políticos, mas a relação entre Donald Trump e Angela Merkel nunca foi boa, sendo Merkel uma "mulher forte" que intriga o presidente, segundo Bruce Stokes, pesquisador associado do grupo de reflexão Chatham House.

A chanceler também não tentou buscar qualquer tipo de cumplicidade com Trump, ao contrário de outros líderes como o francês Emmanuel Macron, disse a pesquisadora Sudha David-Wilp. A desconfiança que se instalou entre a Europa e os Estados Unidos deixará suas consequências, alertaram vários observadores.

A imagem dos Estados Unidos nunca foi tão ruim, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center: no Reino Unido, apesar de sua relação especial com os Estados Unidos, apenas 41% dos entrevistados - o pior valor já registrado - tiveram um opinião positiva dos Estados Unidos; enquanto na França a proporção era dez pontos menor e na Alemanha, apenas 26% avaliaram esse país positivamente.

PUBLICIDADE

  "As eleições presidenciais mostrarão se o 'efeito Trump' em termos de política antiliberal e protecionista é um fenômeno passageiro ou uma tendência mais profunda na política americana", disse a Fundação Robert Schumann, com sede em Bruxelas, em nota.

Uma vitória de Joe Biden não viraria necessariamente o jogo, pois embora o democrata tenha consciência da "necessidade de revitalizar as relações com os aliados", primeiro terá que enfrentar os muitos desafios que abalam o país, a começar pela luta contra a pandemia do coronavírus, lembrou David-Wilp.

Não haverá "retorno" à situação anterior, previu Bruce Stoks, que ainda assim enxerga a possibilidade de "definir uma nova relação" entre Washington e Bruxelas.

Publicidade

Mas “para muitos alemães, os Estados Unidos continuarão a ser um aliado visto com grande ceticismo”, considerou o diário alemão Süddeutsche Zeitung, sem se arriscar a prever “se e quando” o sentimento de uma “comunidade de valores” renascerá.

Se Donald Trump - que no momento não tem vantagem nas pesquisas - ganhar as eleições, a Europa pelo menos saberá o que esperar. Ao contrário de 2016, não haverá mais o efeito surpresa. “Se quisermos ver o copo meio cheio, a presidência de Trump poderia ter acelerado a unidade dos europeus”, observou Bruce Stokes.

De qualquer forma, mesmo sob um segundo mandato de Trump, Estados Unidos e UE poderão continuar a formar uma frente única quando tiverem interesse, considerou o pesquisador.

Seria o caso, por exemplo, diante dos desafios colocados por Pequim. "A Europa e os Estados Unidos devem se unir para enfrentar o enorme desafio apresentado pela China", disse Peter Beyer, chefe das relações transatlânticas da Alemanha, em entrevista recente à AFP. /AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.