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EUA e Grã-Bretanha aumentam pressão pela guerra

Por Agencia Estado
Atualização:

Na véspera da reunião do Conselho de Segurança da ONU, quando os inspetores chefiados pelo sueco Hans Blix devem apresentar seu relatório e comentar o trabalho efetuado sobre o desarmamento do Iraque, as pressões anglo-americanas sobre os países europeus aumentaram consideravelmente. Tanto nos EUA como na Grã-Bretanha, o espectro da iminência de novos ataques terroristas está sendo utilizado para tentar mudar a tendência da opinião pública européia, quase unânime contra a guerra, o que nem sempre coincide com a opinião dos governos. Em Paris, ao contrário de Londres e Washington, o alerta máximo não foi decretado. No Parlamento, o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin confirmou a posição da França sobre "uma mudança de atitude do Iraque na boa direção", justificando novos prazos e novas medidas de inspeção. Uma declaração semelhante havia sido feita horas antes, no Bundestag, pelo chanceler alemão, Gerhard Schroeder. A Grã-Bretanha constitui o principal paradoxo europeu, pois se o governo de Tony Blair defende com unhas e dentes a opção pela guerra, a opinião pública é a que revela a porcentagem mais elevada de adversários ao conflito sem o aval da ONU - cerca de 90%, contra 77% da França e 71% da Alemanha. Entre os países da União Européia (UE), a Áustria tem a população mais favorável ao conflito (49%), não por princípio, mas em busca de um objetivo bem definido: acabar com o regime de Saddam Hussein. O diretor do Instituto Francês de Relações Internacionais, Guillaume Parmentier, especialista nas relações entre França e EUA, acredita que a crise atual na Otan é reversível, mas vai levar tempo para cicatrizar as feridas. A crise franco-americana é real e será difícil superá -la com as atuais equipes governamentais, diz Parmentier. Em Moscou, Illia Fabritchinikov, do Centro de Pesquisas Políticas, afirmou que "uma aliança Moscou-Paris-Berlim só poderá ter credibilidade se a Rússia ameaçar utilizar seu direito de veto no CS". Segundo a edição de hoje do diário regional francês Le Telegramme, durante sua visita a Paris, no início da semana, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a Rússia usará seu poder de veto, se for necessário. "Mas não acredito que seja produtivo debatermos este assunto no momento", disse ele, conforme o jornal. Putin fará tudo para manter sua posição, mas com a maior discrição possível, protegido pelo eixo franco-alemão. Para alguns parlamentares russos, entre os quais o centrista Dimitri Rogozine, Putin terá de revelar suas qualidades de "habilidoso equilibrista", para manter sua posição, sem ferir seu novo parceiro, os EUA. Daí ele se referir nesses últimos dias ao presidente do EUA com maior intimidade ("meu amigo Bush"). Depois dos EUA e Grã-Bretanha, as maiores críticas à França têm sido formuladas em Israel. A atitude de Paris suscita o mesmo tipo de reação da causada pela política árabe da França desde 1967. O conselheiro diplomático de Ariel Sharon , embaixador Zalman Shoval, não hesitou em afirmar: "A França mostra mais uma vez que é impossível confiar na Europa." Mas o que mais está chocando os franceses são as primeiras páginas de certos jornais, entre eles, o The New York Post, que publicou a foto dos túmulos de soldados americanos sepultados na Normandia, no cemitério de Coleville, com a legenda: "Eles se sacrificaram pela França, mas parece que foram esquecidos..." Quanto aos países árabes, mesmo apoiando a França, nenhum deles se ilude com os resultados da diplomacia francesa. Basta citar a declaração do ministro libanês Georges Corm: "Todos seguem as manobras de Paris e Washington como se fosse uma partida de futebol, mas sem nenhuma dúvida sobre a identidade do vencedor."

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