PUBLICIDADE

EUA e México, em nova etapa de suas relações

Por Agencia Estado
Atualização:

"Vizinhos Distantes", segundo o clássico que jornalista Alan Riding escreveu nos anos 80, Estados Unidos e o México desafiarão nesta semana os tabus e preconceitos que marcaram a complexa história de suas relações num encontro de seus líderes que promete ser uma das maiores extravagâncias diplomáticas já vistas em Washington. Tendo escolhido o México como o destino de sua primeira viagem internacional depois que assumiu a presidência dos EUA, George W. Bush reservou a seu colega mexicano, Vicente Fox, que considera seu aliado mais próximo entre os líderes mundiais, as honras de primeiro hóspede oficial de sua administração. Aliado especial A visita de dois dias, que Fox inicia nesta terça-feira, foi programada para confirmar o novo status do México como aliado especial dos EUA, ao lado da Inglaterra e de Israel. Acompanhado de sete membros de seu gabinete e da reputação de pai da democracia mexicana, que ganhou ao encerrar sete décadas de monopólio político no México ao vencer as eleições de 2 de julho do ano passado, Fox será recebido com um jantar black tie na Casa Branca, discursará perante o Congresso e dará um jantar de retribuição a Bush na Blair House, onde ficará hospedado. Na sexta-feira, ele acompanhará seu anfitrião a Toledo, Ohio, uma área com grande presença de imigrantes mexicanos, para uma viagem que resume a utilidade política que a nova amizade entre os dois países tem para seus líderes. Investimentos e votos Para o popular e carismático Fox, trata-se de atrair investimentos para seu país e de aumentar seu cacife político em casa e nos EUA, investindo politicamente nos cerca 8 milhões de imigrantes mexicanos - metade dos quais ilegais - , que representam uma crescente força política e econômica nos dois países. No ano passado, eles remeteram US$ 8 bilhões para o México. Para Bush, o objetivo imediato é cultivar o eleitorado hispânico, 75% do qual de origem mexicana e majoritamente democrata, que são vitais para a reeleição do presidente em 2004 e a consolidação de uma maioria republicana estável, segundo os estrategistas do partido. Acordos Os dois líderes assinarão acordos para combater o narcotráfico e a lavagem de dinheiro, acelerar as trocas comerciais ao longo dos mais de 3.500 quilômetros de fronteira entre seus países e aumentar a cooperação no setor de energia. Mas ficarão aquém de seus planos iniciais no tópico mais ambicioso e urgente da agenda bilateral: uma revisão da política de imigração dos EUA. Depois de meses de negociações, Bush admitiu na semana passada que os dois líderes concordarão apenas sobre princípios gerais para um novo quadro regulatório do fluxo de imigrantes. O objetivo é a regularização da situação dos mexicanos que vivem ilegalmente nos EUA e o ordenamento da entrada de novos imigrantes, por meio de um programa de vistos temporários para trabalhadores, que a economia americana continuará a exigir para preencher principalmente empregos de mão-de-obra não qualificada no setor de serviços e na agricultura. Anistia A idéia de uma anistia, que chegou a ser cogitada, foi arquivada por pressão de políticos e organizações conservadoras da base de sustentação do próprio Bush. A possibilidade de uma recessão na economia americana esfriou o apoio dos sindicatos à idéia da legalização dos mexicanos indocumentados. Uma recente sondagem encomendada pela rede ABC revelou que os americanos estão divididos, com 49% contra e 43% a favor. Em lugar de legalização, "regularização" passou a ser a palavra de ordem oficial. O chanceler mexicano, Jorge Castañeda, disse que espera que a administração americana apronte um projeto de reforma das leis de imigração até o ano que vem. Expectativas Uma coisa é certa. "A Cúpula dos Dois Amigos", como o evento vem sendo chamado, elevará ainda mais as expectativas dos mexicanos em relação a Fox. Estas já estão na estratosfera, em parte por causa do estilo populista do novo presidente, que é dado a anunciar planos sem saber como executá-los. Com a economia mexicana puxada para baixo pela desaceleração dos EUA e fadada à estaganação este ano, Fox tem pouco a exibir nos seus primeiros nove meses em los Pinos e começa a enfrentar críticas e dificuldades para levar adiante seu programa num Congresso em que é minoritário.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.