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EUA e Taleban aumentam mobilização para a guerra

Por Agencia Estado
Atualização:

A escalada rumo a uma guerra no Afeganistão sofreu uma aceleração hoje. Em um só dia, houve mais sinais nessa direção do que em toda a semana antecedente. Uma delegação militar americana chegou a Islamabad, a liderança do regime Taleban anunciou a mobilização dos milicianos em todo o país, depois de bloquear as comunicações de escritórios da ONU, e o governo paquistanês informou ter retirado todo o seu pessoal diplomático do país. De acordo com um comunicado assinado pelo ministro da Defesa do regime Taleban, o mulá Obaidullah, enviado de Cabul para agências de notícias, 300 mil homens foram convocados para defender o Afeganistão de eventual "invasão estrangeira". Estima-se que as forças do Taleban tenham um contingente de 40 mil soldados. Os 300 mil adicionais seriam o equivalente aos "reservistas" - milicianos espalhados pelo país, encarregados de impor a ordem, e ex-combatentes dedicados a outras tarefas. O mulá - título honorífico religioso dado a todas as autoridades do Taleban - afirmou também que centenas de milhares de outros voluntários estão se alistando para lutar na jihad, a guerra santa, a que todo muçulmano está obrigado para defender a si mesmo, o Islã, seu país e outros muçulmanos. "Todas as divisões estão prontas para a defesa de sua religião e país com vigor e ordem totais", diz o comunicado. "Em vista das atuais condições, 300 mil homens experientes e bem equipados foram estacionados no centro (do país), nas fronteiras e em outras áreas importantes, ao lado das divisões já existentes?. O vice-embaixador do Taleban em Islamabad, Sohail Shaheen, confirmou que está havendo mobilização no país, "na medida de suas possibilidades". Shaheen disse que a decisão dos Estados Unidos de mostrar - a seus aliados - as evidências que tem contra Osama bin Laden "é uma notícia muito boa" e pode indicar o caminho para uma solução pacífica. O vice-embaixador, o único diplomata afegão que ainda está em Islamabad, afirmou que o governo Taleban "tentou entregar mensagens a Osama", incluindo a decisão do conselho de líderes espirituais, que recomendou ao regime solicitar ao suspeito dos ataques aos EUA que saia do país. "Mas não sabemos o paradeiro dele", disse Shaheen, que supõe, no entanto, que Bin Laden ainda esteja no Afeganistão. O diplomata aproveitou para fazer um apelo irônico e ao mesmo tempo uma advertência aos americanos. "O solidário povo dos Estados Unidos, durante a ocupação soviética, nos assistiu de maneira inédita e ainda somos gratos por isso", disse Shaheen, lembrando os tempos da guerra fria. "Pedimos ao povo da América que alerte as autoridades e salve os afegãos e os americanos das graves conseqüências." O líder do Taleban, Mohammed Omar, disse hoje quais são as condições sob as quais os EUA se veria livre do terrorismo. "Se os americanos querem eliminar o terrorismo, devem retirar suas forças do Golfo Pérsico e pôr fim a sua atitude tendenciosa quanto à questão da Palestina", afirma outro fax, assinado por Omar, e enviado de Kandahar às agências de notícias. A presença americana na terra sagrada da Arábia Saudita levou o milionário saudita Osama bin Laden, antes ajudado pelos americanos na luta contra os soviéticos, a voltar-se contra os Estados Unidos. "A América quer eliminar o Islã e está espalhando a desordem para instalar um governo pró-americano no Afeganistão", continua o comunicado. Indagado pelo Estado se o Paquistão está sob pressão dos EUA para romper relações diplomáticas com o Afeganistão, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Riaz Mohammad Khan, disse que os 12 diplomatas paquistaneses já foram retirados do país vizinho, "por razões de segurança". Quanto à manutenção do representante diplomático do Taleban em Islamabad, Khan tem explicado que, na visão do governo paquistanês, faria mais mal do que bem fechar esse último canal de comunicação do regime fundamentalista afegão com o mundo exterior. Uma delegação de três militares americanos, chefiada por um general de duas estrelas, chegou hoje cedo a Islamabad, para "compartilhar informações" com "seus colegas" paquistaneses, informou o porta-voz. "Queremos de saber em que os Estados Unidos estão interessados", disse Khan, esquivando-se de perguntas sobre o eventual uso de bases militares paquistanesas pelos EUA. "É uma delegação preliminar." Nem Khan nem o porta-voz da embaixada americana, Mark Wenturrth, quiseram dar mais detalhes sobre a missão. Amanhã chega à capital paquistanesa uma missão da União Européia, encabeçada por Louis Michel, chanceler da Bélgica, que ocupa a presidência de turno da Comissão Européia.

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