EUA, Canadá, Europa e Austrália isolam Putin e expulsam 116 diplomatas

Medida foi adotada em retaliação ao ataque com arma química contra um ex-espião russo que vive no Reino Unido, elevando a tensão a seu mais alto nível desde a anexação da Crimeia

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
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WASHINGTON - O presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou nesta segunda-feira, 26, a expulsão de 60 diplomatas russos dos EUA, em retaliação ao ataque com um agente neurotóxico contra o ex-espião russo Serguei Skripal no dia 4 de março, no sul da Inglaterra. A ofensiva foi coordenada com Canadá, Austrália e 20 aliados europeus, que ordenaram a saída de outros 56 diplomatas, em uma demonstração coletiva de apoio à primeira-ministra britânica, Theresa May, que responsabilizou Moscou pelo atentado.

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Essa é adecisão mais dura contra o Kremlin tomada por Donald Trump, que foi criticado por não ser firme o suficiente com o presidente russo, Vladimir Putin Foto: EFE/ Michael Klimentyev

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A reação coordenada elevou o grau de tensão entre o governo de Vladimir Putin e o Ocidente ao maior patamar desde a anexação da Crimeia, em 2014, condenada com a imposição de sanções econômicas à Rússia pelos EUA e pela Europa. O governo americano sustenta que os diplomatas expulsos são espiões, entre os quais 12 que servem na ONU em Nova York.

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O número é maior que os 55 que foram obrigados a deixar os EUA em 1986, durante a Guerra Fria, na que havia sido a mais ampla medida do tipo já adotada por Washington contra Moscou. O endurecimento da posição do governo americano contrasta com as reiteradas manifestações de simpatia de Trump em relação a Putin. 

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Há algumas semanas, Theresa May expulsou 23 diplomatas russos identificados como espiões e suspendeu os contatos bilaterais com Moscou. Pouco depois, a administração Trump impôs sanções a vários indivíduos e organizações russos pela suposta interferência nas eleições presidenciais americanas de 2016 e os ataques cibernéticos.

Após os anúncios feitos pelos países europeus nesta segunda-feira, May elogiou a decisão e disse que é um forte sinal de que Moscou não pode desrespeitar o direito internacional. O secretário britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, afirmou que está é a maior expulsão de representantes russos já feita.

"A extraordinária resposta internacional de hoje dos nossos aliados entra para a história como a maior expulsão coletiva de agentes de inteligência russos jamais feita e ajudará a defender nossa segurança", disse Johnson em sua conta no Twitter. "A Rússia não pode violar leis internacionais e ficar impune."

Reação

A Rússia já anunciou que responderá ao anúncio de Washington nos próximos dias, segundo a agência de notícias RIA, citando uma fonte do Ministério das Relações Exteriores. "A resposta será simétrica. Trabalharemos nisso nos próximos dias e responderemos a cada país", disse a fonte. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, indicou que a resposta terá como base o princípio da reciprocidade.

Essa é a decisão mais dura contra o Kremlin tomada por Trump, que foi criticado por não ser firme o suficiente com o presidente russo, Vladimir Putin.

Na semana passada, o presidente americano contrariou orientação de assessores e parabenizou o russo por sua reeleição em um telefonema. Depois da conversa, os dois governos disseram que um encontro bilateral entre os líderes poderia ocorrer em breve. 

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O ocupante da Casa Branca foi criticado por não mencionar o ataque químico no telefonema a Putin e por sua demora em manifestar solidariedade ao Reino Unido, o principal aliado dos EUA. Ávido usuário do Twitter, Trump não publicou nenhum post ontem sobre as medidas anunciadas por seu governo contra Moscou nem fez comentários públicos sobre o assunto.

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“A expulsão dos diplomatas tornará mais difícil um encontro entre Trump e Putin”, afirmou William Pomeranz, especialista em Rússia do Wilson Center, em Washington. Em sua opinião, a ação coordenada mina a credibilidade do governo Putin, que nega qualquer envolvimento no ataque contra o espião duplo Serguei Skripal e sua filha, Yulia. Ambos foram contaminados por Novichok, uma substancia banida por tratados internacionais, e continuam hospitalizados. “A Rússia sempre se esconde atrás da negação plausível, mas isso terá menos credibilidade agora”, observou Pomeranz.

“Pela primeira vez, desde o fim da 2.ª Guerra, uma arma química foi usada na Europa”, declarou, em nota, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas.

Distante. Trump também ordenou o fechamento do consulado russo em Seattle, por sua proximidade com a sede da Boeing e uma base de submarinos. “As ações de hoje tornam os EUA mais seguros ao reduzir a capacidade da Rússia de espionar americanos e de conduzir operações secretas que ameaçam a segurança nacional da América”, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders. “Os EUA continuam prontos para cooperar na construção de uma melhor relação com a Rússia, mas isso só pode ocorrer com uma mudança no comportamento do governo russo.”

O embaixador de Moscou em Washington, Anatoli Antonov, foi informado da decisão menos de uma hora antes do anúncio. Segundo a agência russa Interfax, ele afirmou que a medida destruirá “o pouco do que resta da relação Rússia-EUA”. Pomeranz espera que Putin retalie com a expulsão de um número semelhante de diplomatas e o fechamento de um dos três consulados que os EUA mantêm na Rússia.

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