EUA fazem concessão para conferência sobre racismo

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Por Agencia Estado
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Os Estados Unidos, que têm ameaçado boicotar uma conferência da ONU sobre racismo devido a exigências africanas e árabes, sugeriram hoje que aceitariam que no documento do encontro houvesse uma denúncia da escravidão desde que ela não servisse de base para pedidos de compensação financeira. "Expressamos nosso profundo pesar e profundo remorso pelo terrível sofrimento causado", é a expressão proposta apresentada pela delegação dos EUA para outros negociadores que cuidam dos preparativos para a Conferência Mundial Contra o Racismo, a ser iniciada em 31 de agosto em Durban, África do Sul. A expressão substituiria uma outra, proposta pelos africanos, que exigiria "um pedido explícito de desculpas" às vítimas por parte dos países que se beneficiaram com a escravidão. Diplomatas afirmaram que a mudança é importante porque a palavra "desculpa" poderia ser usada como base legal para futuros processos judiciais. A ministra do Exterior da África do Sul, Nkosazana Dlamini-Zuma, em Genebra para ajudar nos esforços para assegurar a presença dos EUA e o sucesso da conferência, disse que ainda não tinha visto a resposta de Washington e portanto não podia fazer comentários. Mas ela afirmou que o grupo africano está buscando um acordo e os EUA também demonstraram o desejo de fazer concessões. "Vamos dar, mas também gostaríamos de receber", disse Dlamini-Zuma. A insistência africana de uma compensação pela escravidão e colonianismo continua sendo uma grande parte do esboço de declaração proposta para a conferência. A proposta norte-americana abre espaço a ser preenchido pela discussão sobre colonialismo, pelo qual os países europeus recusam-se a considerar o pagamento de indenização. A proposta africana afirma que "Estados que são ex-poderes coloniais devem expressar desculpas a todas as vítimas do colonialismo pelo maciço sofrimento humano causado". Os Estados Unidos têm advertido a outros países que não participará da conferência caso a exigência de compensação seja mantida e o que considera críticas inaceitáveis a Israel continuem na agenda da conferência. Ahmed Ben Bella, um líder da luta da Argélia para se tornar independente da França em 1962, disse hoje que o Ocidente deveria reconhecer que o comércio escravagista foi um crime e oferecer indenização cancelando as atuais dívidas da África. "A comunidade internacional deveria reconhecer que o comércio escravagista e a escravidão de africanos, assim como o colonialismo, constituem crimes contra a humanidade", afirmou Ben Bella. "O Holocausto, no qual morreram seis milhões de judeus, tem sido reconhecido como um crime contra a humanidade", argumentou. "A morte de 142 milhões de africanos durante o comércio escravagista foi também um holocausto". Autoridades dos EUA também estão particularmente incomodadas por propostas igualando o sionismo ao racismo, mas delegados árabes indicaram que estão dispostos a abandonar críticas ao movimento que levou à fundação do Estado de Israel. Entretanto, existem muitas outras condenações a Israel introduzidas nas 88 páginas do esboço de declaração, e os EUA querem que todas sejam também removidas.

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