EUA frearam os massacres por uma década

De 1994 a 2004, fuzis de assalto foram banidos no país e número de assassinatos em massa caiu

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Por Cláudia Trevisan , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O cenário parece improvável, mas durante dez anos os EUA proibiram a venda de fuzis militares, como o AR-15, e de cartuchos de munição com mais de dez balas. O resultado foi a queda no número de massacres a tiros, além do registro do mais longo período da história moderna do país sem um único incidente do tipo.

Menino de 11 anos experimenta fuzil AR-15 durante encontro anual da Associação Nacional de Rifle em Houston, Texas Foto: REUTERS/Adrees Latif

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Após o ataque que deixou 17 alunos e professores mortos em uma escola da Flórida, na semana passada, a volta da proibição se tornou uma das bandeiras dos estudantes que sobreviveram e passaram a defender controles mais estritos sobre armas.

Mas é quase nula a chance de o Congresso, controlado pelos republicanos, restabelecer o veto que vigorou de 1994 a 2004.  Quando a medida foi aprovada, os democratas controlavam Câmara, Senado e Casa Branca – Bill Clinton era o presidente. Houve dissidências no partido, mas 46 deputados e 7 senadores republicanos apoiaram a lei. 

A pressão do lobby das armas levou o Congresso a estabelecer um prazo de dez anos para a proibição. Quando ele expirou, em 2004, os republicanos tinham maioria no Congresso e o presidente era George W. Bush. Alinhados com a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), eles não tinham interesse em renovar o veto.

“A conclusão da experiência americana com a proibição de fuzis de assalto e grandes cartuchos de munição é que leis sobre o controle de armas podem salvar vidas”, escreveu Louis Klarevas no livro Rampage Nation, no qual analisou todos os ataques das últimas cinco décadas que deixaram seis ou mais vítimas fatais. 

No dez anos anteriores à proibição, os EUA registraram 19 incidentes do tipo, que deixaram 155 pessoas mortas, segundo Klarevas, professor da Universidade de Massachusetts. Na década em que a lei vigorou, os casos caíram para 12, enquanto o número de vítimas fatais foi a 89.

“Quando o veto expirou, os ataques retornaram como vingança”, afirmou. Na década seguinte, o total de incidentes quase triplicou, para 34. As mortes registraram um crescimento ainda maior e chegaram a 302.

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Especialista em controle de armas, Robert Spitzer, da Universidade Estadual de Nova York, em Cortland, disse que a decisão de banir os cartuchos de munição com mais de dez balas teve impacto na redução da violência, mas a proibição de fuzis de assalto também foi importante. “Não há nenhuma razão para civis terem acesso a armas militares.” 

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