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EUA irão investigar supostos abusos contra prisioneiros

Anúncio da medida coincide com divulgação de relatório sobre ameaças sofridas por detidos.

Por BBC Brasil
Atualização:

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indicou, nesta segunda-feira, um promotor especial para investigar os supostos abusos e atos ilegais cometidos por agentes da CIA, a agência central de inteligência dos EUA, e funcionários de empresas privadas contratadas pelo governo americano contra "suspeitos de terrorismo". O anúncio da indicação de John Durham para o posto foi coincide com a divulgação de um relatório que aponta que agentes da CIA teriam ameaçado matar os filhos de um suposto extremista e estuprar a mãe de outro durante interrogatórios. Durham, que já estava investigando a destruição de fitas de vídeo que mostravam interrogatórios da CIA, foi indicado pelo secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder. "Eu sei que minha decisão de iniciar esta revisão preliminar será controversa. Neste caso, dadas todas as informações disponíveis, está claro para mim que esta revisão é a única ação responsável que eu poderia tomar", disse Holder. Reabertura de casos Também nesta segunda-feira, o Escritório de Ética do Departamento de Justiça dos EUA recomendou a reabertura de diversos casos de investigações sobre abusos de prisioneiros, cometidos em sua maioria no Iraque e no Afeganistão. Em mais uma iniciativa do governo do presidente Barack Obama para modificar as técnicas de interrogatório contra supostos extremistas, o vice-secretário de Imprensa da Casa Branca, Bill Burton, confirmou que será formada uma equipe de elite para interrogar suspeitos importantes. Segundo correspondentes, a formação da equipe - batizada de Grupo para Interrogatórios de Prisioneiros de Alto Valor - se deve à preocupação de Obama com o fato de muitas agências governamentais estarem envolvidas neste trabalho. Interrogatórios O relatório divulgado nesta segunda-feira, foi liberado pelo Departamento de Justiça dos EUA. O documento afirma que um agente da CIA teria ameaçado matar os filhos Khalid Sheikh Mohammed - considerado um dos mentores dos ataques de 11 de setembro de 2001 - durante um interrogatório. "Um agente interrogador experiente informou que os interrogadores (...) disseram a Khalid Sheikh Mohammed que se algo mais acontecesse com os Estados Unidos 'nós iremos matar os seus filhos'", diz o documento que, no entanto, afirma que os agentes não consideraram que a lei estivesse sendo violada no momento. O relatório, que data de 2004, foi liberado devido às leis sobre publicidade de informação pública dos EUA, e traz as descrições de interrogatórios feitos com Rahim Al-Nashiri, suspeito de envolvimento no atentado contra o navio USS Cole e suposto comandante da rede extremista Al-Qaeda. Os agentes teriam ameaçado Al-Nashiri com uma metralhadora descarregada e com uma furadeira, enquanto ele estava nu e encapuzado. O relatório, no entanto afirma que o interrogador "não tocou Al-Nashiri com a furadeira elétrica". O mesmo interrogador teria dito que eles poderiam "levar a mãe" de Al-Nashiri até a sala de interrogatórios, com a suposta intenção de fazê-lo acreditar que ele a estupraria em sua frente, "técnica de interrogatório que seria usada em alguns círculos do Oriente Médio", segundo o relatório. O interrogador, no entanto, afirmou que "não ameaçou Al-Nashiri usando sua família". Limites A versão do relatório divulgada nesta segunda-feira tem grande parte dos textos censurados, mas um juiz americano ordenou a publicação de uma versão mais ampla. Segundo analistas, as revelações podem fazer com que empregados da agência envolvidos em irregularidades sejam processados. Pouco antes da divulgação do relatório, o diretor da CIA, Leon Panetta, publicou um comunicado onde afirma que o documento "é, de muitas formas, uma história velha" e que "não faria julgamentos sobre a exatidão do relatório ou das várias visões expressadas sobre ele". Mesmo afirmando que a agência irá "apoiar os oficiais que fizeram o que seu país pedia", Panetta disse que a CIA "não perdoará comportamentos que, mesmo raros, ultrapassaram as diretrizes formais do antiterrorismo". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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