EUA não conseguem deter fluxo de capitais para terror

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Por Agencia Estado
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Ao analisar os novos atentados de ontem em Istambul, o historiador Francisco Carlos Teixeira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considerou que a invasão do Iraque por tropas americanas e britânicas, ao contrário de aumentar as chances de paz naquela região, transformou-a num viveiro para o terror muçulmano e sem que o governo George W. Bush consiga deter o fluxo de capitais que continua financiando esses grupos. Entrevistado no Jornal das Dez, da Globo News, Teixeira contestou as afirmações feitas pelo presidente americano e pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, segundo os quais os atentados na Turquia não têm qualquer relação com a questão do Iraque. "Eles estão fazendo o seu papel, porque seria tremendamente embaraçoso (para Bush e Blair) concordar que a guerra no Iraque não resolveu o problema do terrorismo. Ao contrário, atrapalhou a luta maior contra o terrorismo. Ou seja, ampliou o território e as fontes de recursos, de armamentos e de explosivos, que os terroristas até então tinham bastante limitadas", disse o historiador. Complicações para Bush Para o professor da UFRJ, a luta contra o terrorismo está se mostrando muito mais complicada para o governo Bush, do que inicialmente se pensava. Ele lembrou que não há terrorismo sem dinheiro, e que uma das coisas mais fundamentais - que seria deter o livre fluxo de capitais e controlar os paraísos fiscais, por onde o dinheiro flui para organizações como a Al-Qaeda - não foi até agora conseguida por Washington. A Al-Qaeda continua agindo livremente, captando recursos e negociando com pedras preciosas, sem que os Estados Unidos consigam dar uma resposta adequada. "Isso pode ser muito negativo (para a reeleição de Bush). O problema todo é saber se até lá (a data da eleição), a situação no Iraque evolui positivamente para os Estados Unidos, ou não. A captura de Saddam Hussein, ou sua morte, por exemplo, seria um trunfo eleitoral importante. Mas, também, um grande atentado nas festas das eleições, seria uma tragédia para a candidatura Bush." Humilhação permanente Ao analisar o conflito entre árabes e israelenses, o professor fluminense afirmou que o panorama atual no Oriente Médio mostra uma clara separação de objetivos entre os governos ocidentais e vários governos arabes. "Muitas vezes nós não percebemos isso no Ocidente, mas não é mais possível continuar este estado permanente de humilhação do povo palestino. E essa humilhação constante pode levá-los a acreditar que apenas os grupos terroristas são corajosos o suficiente para enfrentar a situação existente." Teixeira concordou com as afirmações feitas pelo chefe do Serviço Secreto da Alemanha, para quem os atentados de ontem em Istambul são a prova mais perigosa do distanciamento entre o Ocidente e o mundo islâmico. Para o professor da UFRJ, não se trata de saber se a questão palestina é histórica ou não, se existe ou não a possibilidade de convivência de Israel com o estado palestino. O muro na Cisjordânia Ele lembrou que a distância para a paz alargou-se ainda mais, com a construção, ordenada pelo governo Ariel Sharon, de um muro dentro do território palestino da Cisjordânia. "A construção é humilhante. A ocupação do Iraque é humilhante. A existência de governos corruptos e absolutamente despóticos na área do Golfo é humilhante e, por fim, a própria questão da Turquia, onde um governo islâmico foi eleito e, imediatamente, desenvolveu uma política de aliança com Israel e com o governo americano. Tudo isso dá a impressão, para a rua árabe, para a rua islâmica, de que eles não têm voz no cenário internacional. Isso pode criar um viveiro cada vez mais crescente para o terrorismo."

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