EUA não vão deportar famílias de ilegais mortos

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Por Agencia Estado
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O governo americano decidiu, na última sexta-feira, conceder aos familiares estrangeiros, dominicanos em sua maioria, das vítimas do vôo 587 da American Airlines, o mesmo benefício dado aos familiares daqueles que morreram no World Trade Center: eles não serão deportados. Isto porque muitos vivem clandestinamente nos Estados Unidos, o que explica o reconhecimento de apenas 50 corpos de um total de 260 até a última sexta-feira, mesmo que alguns não permitam a identificação, exceto por estudo de DNA. O reconhecimento das vítimas é o primeiro passo para os familiares poderem dar entrada nos processos de indenização. A medida, embora recebida com alívio por boa parte da comunidade dominicana, ainda é considerada insuficiente para muitos deles. O cônsul-geral da República Dominicana em Nova York, Luis Eludis Pérez, afirmou, em entrevista coletiva, que muitos familiares residentes na República Dominicana estariam encontrando dificuldade para tirar vistos. No quarto andar do imponente prédio de número 1501 da Broadway, filas de dominicanos tiram dúvidas, alguns realmente atemorizados pela possibilidade de, ao reconhecer o corpo de um parente, ser deportado. Nos Estados Unidos vivem cerca de 750 mil dominicanos, e as autoridades do país estimam que possam existir mais de 300 mil em situação irregular. A aposentada Aura Linhares, de 63 anos que perdeu a filha Melissa Taveira, de 37 anos, dava a dimensão desse quadro. Com lágrimas nos olhos, ao lado do neto que perdeu a mãe, Pablo Miguel, de 12 anos, Aura contou que veio aos Estados Unidos para cuidar dos netos, permitindo, assim, que a filha fosse a São Domingos visitar o marido, que havia sido deportado três meses antes. Melissa, que morava há nove anos nos Estados Unidos, mesma idade de sua filha Catherine, trabalhava em um salão de cabelereiros em Washington Heights, onde se concentram os imigrantes dominicanos da cidade. Aura vive, agora, um novo drama. "Minha filha sustentava toda a família. Agora, eu vou cuidar dos meus netos, mas não penso em voltar para a República Dominicana, porque eles aqui podem sonhar com uma vida melhor." Ela teme, porém, que o genro não consiga visto para visitá-los e não quer nem pensar nas dificuldades que enfrentará para legalizar sua situação. Histórias como a de Aura tomaram conta do modesto prédio de número 2340 da Amsterdam Avenue, no bairro nova-iorquino e latino de Washington Heights, desde a queda do Airbus da American Line na segunda-feira, dia 12. Neste local, que abriga a Alianza Dominicana, familiares buscam informações, sempre temendo pelo futuro.

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