
08 de junho de 2012 | 03h04
Os EUA querem o fim do regime de Bashar Assad, mas, pelo menos oficialmente, descartam a possibilidade de uma intervenção e até mesmo a de armar a oposição. Em vez de usar a estratégia da Otan na Líbia como modelo, americanos olham cada vez mais para o Iêmen como a alternativa para resolver a crise em Damasco.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, voltou a colocar a saída de Assad como precondição a uma mudança na Síria. "A Síria não pode ser - e não será - pacífica, estável e, especialmente, democrática, até que Assad se vá", afirmou. Hillary, porém, citou a experiência com o ditador iemenita Ali Abdullah Saleh como um possível exemplo para a crise síria.
"Há uma série de exemplos para a transição na Síria e eu indicaria o mais recente, no Iêmen. Demorou mais de um ano. Foi preciso enorme esforço internacional. No fim, o presidente Saleh deixou o poder porque as pressões, sanções e isolamento eram muito fortes. Depois de conflitos, mortes e ameaça de guerra civil, ele deixou o poder. Agora há um novo presidente e aparentemente uma consolidação na estabilidade social e na segurança no Iêmen", disse.
Analistas questionam dois pontos da alternativa iemenita para a Síria. Primeiro, a segurança em Sanaa não é tão forte como disse Hillary. No mês passado, um atentado matou 90 pessoas no país, onde também se viu o retorno dos levantes dos houthis no norte, de movimentos separatistas no sul e o crescimento da Al-Qaeda na Península Arábica.
"Recentes episódios como a tomada do aeroporto por forças leais a Saleh são um sintoma da severa degradação da estabilidade política e da segurança no Iêmen, uma situação que deve persistir por anos", avalia a consultoria de risco político Eurasia.
Em segundo lugar, no caso do Iêmen, a maior força de suporte historicamente de Saleh, a Arábia Saudita, apoiou a transferência de poder.
A Rússia, que serve de apoio a Assad, ainda mantém cautela, apesar de dar indicações de que pode se abrir a essa alternativa - de acordo com declaração do vice-chanceler, Mikhail Bogdanov. "A implementação da saída iemenita para resolver o conflito é possível se os próprios sírios concordarem", disse.
Ainda assim, nos corredores da diplomacia americana há enorme ceticismo em relação ao futuro da Síria. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que uma intervenção causaria "caos e carnificina". O Departamento de Estado afirmou que os EUA descartam a possibilidade armar a oposição.
De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner, os EUA "estão provendo apenas assistência não letal à oposição", incluindo aparelhos de comunicação.
Em artigo na revista Foreign Policy, o professor da Universidade de Oklahoma e mais renomado especialista em Síria dos EUA, Joshua Landis, disse que Washington, ao lado da Europa e dos aliados árabes, "está tentando mudar o regime sírio por meio de uma guerra civil", buscando alterar o balanço das forças em favor do lado opositor.
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