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EUA planejam fechar bairros de Bagdá, diz ´The Independent´

O jornalista britânico Robert Fisk, especialista no Oriente Médio, afirmou que operação de contra-insurgência atingiria 30 dos 89 distritos da capital iraquiana

Por Agencia Estado
Atualização:

Enfrentando uma insurreição cada vez mais violenta, os Estados Unidos planejam uma operação para dividir Bagdá, fechando bairros inteiros com barricadas, e deixando entrar apenas os moradores, devidamente identificados com novas carteiras de identidade, segundo artigo publicado nesta quarta-feira, 11, pelo jornal britânico The Independent. O jornalista britânico Robert Fisk, especialista no Oriente Médio, afirmou ao jornal The Independent que o plano atingiria 30 dos 89 distritos da capital iraquiana, sendo a mais ambiciosa operação de contra-insurgência montada até agora pelos EUA no país. O sistema "fracassou de um modo espetacular" no passado, e sua aplicação agora no Iraque é, para Fisk, "um reflexo tanto do desespero dos americanos pelo fato de o Iraque ter caído em uma guerra civil, quanto de sua determinação em ganhar a guerra que matou mais de 3.200 soldados dos EUA". O sistema de "trancar" áreas inteiras sob ocupação estrangeira já fracassou durante a guerra da independência da Argélia com os franceses e depois na guerra do Vietnã, afirma o correspondente, que lembra que Israel também recorreu a táticas parecidas, novamente com pouco êxito, nos territórios palestinos ocupados. No entanto, segundo Fisk, o plano americano não tem como único objetivo a pacificação do Iraque. Aparentemente, os militares americanos querem mobilizar até cinco brigadas mecanizadas - com um total aproximado de 40 mil homens - no sul e no leste de Bagdá. Três das cinco brigadas estariam posicionadas entre a capital iraquiana e a fronteira do país, o que deixaria o Irã, segundo o correspondente, "diante de uma poderosa, e potencialmente agressiva, força militar americana perto de sua fronteira em caso de ataque dos EUA ou israelense contra suas instalações militares este ano". O plano foi elaborado, segundo o "Independent", pelo general David Petraeus, atual comandante das forças americanas em Bagdá, durante um curso de seis meses na base de Fort Leavenworth no estado americano do Kansas. Participaram do curso vários generais que servem no Iraque, chefes do corpo de marines dos EUA e, segundo algumas informações, pelo menos quatro altos oficiais israelenses. O plano para Bagdá pretende aumentar a segurança nos mercados da cidade e em áreas predominantemente xiitas, afirma o jornal britânico, segundo o qual estão previstas várias detenções de homens em idade militar. O projeto de introduzir novas carteiras de identidade se baseia em um sistema adotado na cidade de Tal Afar pelos homens do general Petraeus, e especialmente pelo coronel H. R. McMaster, do Terceiro Regimento de Cavalaria, no começo de 2005. Foi construída uma barreira em torno da cidade para impedir o movimento de pistoleiros e de armas. Petraeus considera o plano um sucesso, apesar de, desde então, Tal Afar, localidade próxima à Síria, ter voltado ao controle dos rebeldes. Segundo o jornal, serão criadas bases de apoio conjuntas iraquianas e americanas em nove dos 30 distritos que serão fechados. A partir delas, as forças dos dois países retirarão os milicianos das ruas antes de isolá-las e de dotar os moradores com carteiras de identidade. A princípio, apenas os moradores terão acesso permitido a esses bairros, e haverá várias patrulhas conjuntas, além de um sistema de registro de "visitantes" e de limitação de movimentos fora das "comunidades fechadas". No entanto, um oficial americano que serviu no Vietnã expressou ao jornal seu ceticismo sobre o plano americano, ao afirmar que os sunitas, xiitas e curdos são antes de tudo leais ao seu povo, e por isso não se pode falar em "um Exército iraquiano independente".

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