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EUA põem US$ 1,2 bi em Plano Peru

Luta contra drogas e guerrilha se assemelha ao projeto colombiano

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O governo dos Estados Unidos vai investir US$ 1,2 bilhão na fase inicial do Plano Peru, um programa de combate à guerrilha e ao narcotráfico, "principalmente ao neoterrorismo guerrilheiro do Sendero Luminoso e à corrupção instalada no governo", segundo Salvador Raza, especialista do Centro de Estudos sobre Segurança Hemisférica, uma agência acadêmica de Washington, ligada ao Pentágono. Raza está cuidando da criação do modelo da estratégia no Peru e em mais seis países da região (mais informações abaixo). O projeto é diferente dos planos Colômbia e Mérida (mexicano). Todas as ações estarão concentradas em uma determinada região e não em todo o país. A intenção é "quebrar os vínculos entre os elementos que definem o problema para então enfrentá-los", explica Salvador. Essa abordagem implica um sofisticado esquema financeiro e econômico, "além, obviamente, do enfrentamento repressivo direto, pela força, do desmantelamento das redes e da reintegração social da população". Segundo militares brasileiros ouvidos pelo Estado, há sim dois fatores que causam preocupação: o retorno dos guerrilheiros de esquerda do movimento radical Sendero Luminoso, inspirado na doutrina do líder chinês Mao Tsé-tung, e a expansão dos negócios envolvendo o tráfico de drogas alcaloides como a cocaína e a heroína. Um relatório produzido pela área de inteligência diz que somente na região de maior concentração de plantações de folha de coca, no interior do Peru, foram localizados 800 postos de processamento de drogas. Há apenas cinco anos o número era estimado em pouco mais de 100. Boa parte desse aumento se deve à transferência dos laboratórios da rede do tráfico que funcionava na Colômbia. "Pior é a comprovação de que os chefões do crime estão tratando de aprimorar sua técnica agrícola e promovendo o melhoramento genético da planta, para aumentar resistência e a produtividade", diz o agrônomo Simon Bentes, consultor da agência oficial peruana Contradrogas. GUERRILHA Os combatentes irregulares do Sendero Luminoso, que agiram esporadicamente ao longo dos últimos 16 anos - desde a prisão do líder, Abimael Guzmán, em 1992 - estão de volta. Há duas semanas um coronel do Exército peruano que prefere ser identificado apenas como Piño, apurou que o grupo está recrutando 60 homens e mulheres a cada mês no eixo do Vrae, um vale formado pelos rios Ene e Apurimac. Oferece como pagamento um soldo de US$ 150, cerca de R$ 280. Segundo o oficial, é significativo no país que tem 28 milhões de habitantes e renda per capita de US$ 6.700 (no Brasil, chega a US$ 10.300, com pouco mais de 191 milhões de habitantes). O contingente do núcleo de elite soma entre 600 e 700 guerrilheiros. Dinheiro, equipamentos e armas vêm do tráfico, garante o coronel Piño. Ele participa do Operativo Excelencia 777, uma operação conjunta das forças peruanas contra o Sendero, iniciada em abril e intensificada há três semanas. Em 90 dias morreram 32 soldados e oficiais em 11 emboscadas,segundo o general Otto Gubovich, comandante do Exército. "Precisamos de recursos - sistemas de combate avançados por exemplo", explica. Gubovich afirma que Guzmán, conhecido como "Camarada Gonzalo", dirige as ações da guerrilha de dentro da cela que ocupa desde 1992. O coronel Piño vai mais longe. Para ele, além dos senderistas, Guzmán controla o grupo alternativo Prosseguir na Guerra Popular, responsável por 8,5 mil das 69 mil mortes registradas entre 1980 e 2000 e atribuídas aos rebeldes. Em junho de 2003 o Brasil entrou nessa história. Um jato modelo R-99B do Esquadrão Guardião da Força Aérea decolou de Anápolis com a missão - negociada diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o então líder peruano, Alejandro Toledo - de apoiar uma ação de resgate de 74 reféns tomados pelo Sendero na Província de Ayacucho - a maioria funcionários da empresa Techint, que construía um oleoduto. Duas horas de voo sobre a mata foram suficientes para monitorar as comunicações entre os sequestradores e definir a localização do cativeiro. Um time das Forças Especiais peruanas chegou ao local em 45 minutos. A cooperação militar com os EUA está distribuída em vários pontos. Há permissão para que aviões de reconhecimento usem instalações militares em La Joya e Chiclayo. A agência antidrogas dos EUA (DEA) mantém aviões em Pucalpa. Perto da fronteira com o Brasil, em Puerto Esperanza, a infraestrutura permite pouso e decolagem de cargueiros. Ali ficam também os aviões da Development Corp, prestadora terceirizada de serviços de inteligência.

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