PUBLICIDADE

EUA pressionam Brasil pela destituição de embaixador

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando foi informado pelo governo norte-americano de sua intenção de retirar o embaixador José Maurício Bustani da direção-geral da Organização para a Proscrição de Armas Químicas (Opaq), no início deste ano, o Palácio do Planalto foi alertado também de que Washington trataria o assunto de forma bilateral. Ou seja, não aceitaria a resistência do governo brasileiro, sob a ameaça de o País perder apoio norte-americano em disputas pela direção de qualquer outro organismo internacional. A ameaça foi entregue ao Palácio do Planalto no início deste ano. Nos últimos dias, foi anexada uma observação de Washington de que dois países considerados "inimigos", Cuba e Irã, haviam votado em favor da permanência de Bustani na Opaq, contra a moção de desconfiança proposta pelo governo americano ao diplomata. Portanto, haviam se aliado ao Brasil. A iniciativa norte-americana de atropelar o brasileiro e a mensagem enviada ao Planalto criaram uma das situações diplomáticas mais inusitadas ocorridas nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso. De um lado, o Palácio do Planalto percebeu que pouco poderia fazer para salvar Bustani de uma inevitável queda. No próximo dia 22, os 145 membros da Opaq se reunirão em Haia, Holanda, para decidir se Bustani continuará ou não no cargo. O Itamaraty acenou com um possível trabalho "de formiguinha" para tentar convencer os participantes a manter o embaixador brasileiro na direção-geral. Entretanto, a diplomacia tem consciência de que nada terá a oferecer a cada interlocutor, e que os Estados Unidos farão trabalho similar, com maior poder de troca. De outro lado, o mesmo Palácio sabe que Bustani não merece ser massacrado. O embaixador foi indicado por FHC para a direção-geral da Opaq, teve seus méritos reconhecidos por ele e contou com seu apoio na reeleição. De acordo com fontes da diplomacia, deixar Bustani sozinho seria equivalente a um voto de descrédito do próprio Brasil contra suas futuras indicações para os organismos internacionais. O objetivo do Brasil de conquistar altos postos nessas entidades estaria igualmente comprometido. Nos últimos dois dias, Bustani aproveitou a realização de um seminário internacional da Opaq, em Brasília, para buscar o apoio que necessitaria para manter-se no posto. Visivelmente abatido, o embaixador explicou em detalhes suas dificuldades com os Estados Unidos ao próprio FHC, no final da tarde de hoje, e ainda participou de uma sessão reservada da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Ontem, já havia se encontrado com Lafer por uma hora e meia. "Sei que é uma palavra forte, mas é como se fosse um golpe de Estado", afirmou, referindo-se às pressões americanas para que deixe a Opaq. "Não é compreensível. Isso é um ato unilateral que não se justifica", completou, logo depois de encontrar-se com o presidente da Câmara, Aécio Neves. À Agência Estado, Bustani reafirmou que só sairá da Opaq se os Estados Unidos obtiverem os votos necessários para sua demissão, em 22 de abril. Indicou que conta com poucas esperanças de que o apoio brasileiro vá ser suficiente para mantê-lo no cargo, e que não está disposto a pedir ajuda. Uma vez demitido, deverá retornar ao quadro da diplomacia do País, e há forte tendência de assumir um posto no exterior. "Não vim pedir ajuda. Sou orgulhoso do meu trabalho. Eu honrei o nome do Brasil à frente da Opaq nos últimos cinco anos. Se tiver ajuda, será maravilhoso. Mas não a espero", afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.