EUA reconhecem conselho rebelde líbio

Novo status permite que Washington libere US$ 34 bilhões de ativos a dissidentes, agora legitimados como governo oficial da Líbia

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

CORRESPONDENTE / WASHINGTONOs EUA deram ontem mais um passo para derrubar a ditadura de Muamar Kadafi, há 42 anos no poder, e reconheceram os rebeldes de Benghazi como o legítimo governo da Líbia. A medida permitirá o desbloqueio de US$ 34 bilhões em ativos do regime e da família de Kadafi depositados em território americano e em outros países. Os recursos deverão ser destinados ao chamado Conselho Nacional de Transição (CNT), comando político dos rebeldes líbios. O conselho comprometeu-se a formar um governo efetivo no prazo de um ano.A iniciativa foi apresentada ontem pela secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, durante reunião em Istambul com mais de 30 representantes de governos e organizações internacionais que tentam resolver o impasse na Líbia. "Até que uma autoridade interina tome posse, os EUA reconhecerão o CNT como a legítima autoridade governante da Líbia", afirmou Hillary. "O CNT ofereceu importantes garantias (ontem), entre as quais o compromisso de continuar em um processo de reforma democrática inclusiva, tanto geográfica quanto politicamente."Na reunião na Turquia, houve consenso sobre a autorização para que o enviado especial das Nações Unidas, Abdul Elah al-Khatib, apresente a Kadafi os termos de um acordo para a sua saída do poder e um cessar-fogo. Hillary, porém, ressaltou que qualquer acordo com Kadafi deverá envolver a renúncia dele. Descongelamento. A questão não é mais "se" o ditador cairá, garantiu a secretária de Estado, mas "quando". Kadafi reagiu às declarações com um discurso para milhares na cidade de Zintan. "Esmaguem esses reconhecimentos, esmaguem com os pés. Eles são inúteis", declarou o ditador.A decisão dos EUA de reconhecer o CNT permitirá a liberação de US$ 34 bilhões em ativos congelados em 25 de fevereiro. A demora na tomada dessa atitude deveu-se a resistências do Congresso americano, onde ainda prevaleciam dúvidas sobre a presença de integrantes da Al-Qaeda nas fileiras rebeldes. Esses recursos estavam no nome do próprio Kadafi, de membros da família dele e de autoridades de seu governo. Havia ainda investimentos do Executivo, do Banco Central e de fundos soberanos da Líbia nos EUA. A maioria é líquida, ou seja, conversível em dinheiro facilmente. Mas, mesmo assim, para enviar os recursos a Benghazi será preciso, antes, de uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU.A medida dos EUA abre caminho para que outros países tomem a mesma decisão. O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, reconheceu o "mérito" no argumento dos turcos que defendem a liberação dos US$ 3 bilhões em ativos bloqueados por Ancara. A Turquia prometeu ainda uma linha de crédito para o CNT.

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