NOVA YORK - Em carta enviada às Nações Unidas e a uma série de países, entre eles o Brasil, o regime de Bashar Assad acusou os Estados Unidos de sabotar um acordo assinado na semana passada entre o governo de Damasco e a Liga Árabe para acabar com a violência na Síria.
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Segundo trechos publicados pela agência de notícias estatal Sana, o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Moallen, afirma que o Departamento de Estado americano, por meio de sua porta-voz, Victoria Nuland, "encorajou os grupos armados a seguir com seus atos criminosos contra o povo e o Estado sírio ao aconselhar essas milícias a não depor suas armas".
Na semana passada, depois do anúncio do acordo, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que, na verdade, "não aconselharia ninguém a se entregar às autoridades sírias neste momento", segundo transcrição de sua entrevista coletiva diária. Nuland e o jornalista que fez a pergunta não falam em nenhum momento sobre a suposta entrega de armas. Nuland também não sabia da anistia até ser informada pelo repórter durante a pergunta.
A entrega das armas em troca de anistia é um dos pontos incluídos no acordo do regime sírio com a Liga Árabe, que também prevê a retirada das tropas das ruas, fim da restrição ao trabalho de jornalistas e libertação de presos políticos. Por enquanto, apenas este último item foi cumprido, ainda que parcialmente, pois muitos opositores permanecem detidos.
A carta de Moallen faz parte de uma ofensiva diplomática da Síria antes de uma reunião de emergência da Liga Árabe marcada para sábado. No encontro, os países árabes avaliarão se a Síria está cumprindo os termos do acordo para a interrupção da violência e o início do diálogo com os opositores.
Diplomatas ocidentais no Conselho de Segurança da ONU disseram ao Estado que a posição da Liga Árabe será fundamental para a definição dos próximos passos a serem tomados em relação à Síria. Mas o maior obstáculo continua sendo a Rússia. Moscou afirma que a oposição, e não o regime, está atrapalhado o processo de reformas.
Segundo opositores, as forças de segurança mataram ao menos cem pessoas desde a assinatura do acordo da semana passada. A ação intensificou-se ontem com uma ampla operação do Exército e da milícias shahiba, ligadas a Assad, em áreas residenciais de Homs, onde se concentram as ações da oposição.
O governo nega as informações e diz que a violência prosseguiu como reação a ataques de milícias e terroristas da oposição contra as forças do governo.
Segundo o Estado apurou com pessoas na Síria, o cenário vem se deteriorando em Homs, onde se concentra a oposição. Segundo a ONU, mais de 3 mil pessoas morreram desde o início dos protestos, há sete meses.