EUA sofrem pior revés no Afeganistão

Queda de helicóptero mata 30 militares americanos e 8 afegãos no centro do país; Taleban é suspeito de derrubar aeronave com foguete

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Por Gustavo Chacra
Atualização:

No dia mais fatal para as forças americanas desde o início da Guerra do Afeganistão, há quase uma década, 38 pessoas, sendo 30 integrantes das forças especiais dos Estados Unidos e 8 soldados afegãos, morreram na queda de um helicóptero Chinook na madrugada de ontem em uma província na região central afegã.Dos mortos americanos, 22 integravam o Seal, uma força militar de elite da Marinha dos EUA e responsável por ter matado Osama bin Laden três meses atrás. Entre eles estavam membros do "time 6", o grupo que realizou a operação contra o líder da Al-Qaeda. Entretanto, não eram exatamente os mesmos militares da missão no Paquistão que matou o terrorista saudita, de acordo com autoridades militares americanas.O aparelho que levava as tropas dos EUA depois de uma operação noturna contra o Taleban teria sido abatido por integrantes do grupo em um disparo de foguete. A Otan e o governo do Afeganistão confirmam a queda, sem descrever exatamente como esta teria ocorrido. Equipes de busca dos EUA ainda investigavam o incidente na tarde de ontem.O Taleban costuma exagerar o seu papel na morte de membros das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), especialmente a dos EUA. Ontem, porém, as declarações dos insurgentes estavam sendo levadas a sério tanto pelo governo afegão quanto pelo americano. Pouco antes da queda, na ação contra o grupo em Maidan Wardak, oito militantes da organização tinham sido mortos pelas forças especiais."Eles queriam atacar nossos guerrilheiros que estavam em casa, mas resistimos e destruímos o helicóptero. Oito de nossos mujahedin foram martirizados e matamos 37 americanos", disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do Taleban, pensando que todos os mortos seriam dos EUA. O presidente Barack Obama lamentou o episódio. "Estas mortes são uma lembrança para os sacrifícios feitos pelos homens e mulheres das nossas Forças Armadas e por suas famílias."A ação ocorre poucas semanas depois de a Otan começar a passar para as forças afegãs o controle da segurança no país. Até o ataque de ontem, o dia mais violento contra as forças dos EUA no Afeganistão havia ocorrido em 2005, quando 16 soldados morreram. O incidente de ontem também teve mais vítimas americanas do que no célebre episódio do Black Hawk, na Somália, em 1993, quando 19 morreram.Tropas. Os EUA mantêm mais de 100 mil militares no Afeganistão. O número praticamente triplicou durante a administração de Obama. Seu antecessor, George W. Bush, desde 2003 havia decidido priorizar o conflito no Iraque. O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, divulgou nota expressando "condolências para o presidente Barack Obama e as famílias das vítimas". A relação entre o líder afegão e o governo americano começou a se deteriorar no último ano. No território afegão, os EUA passaram a ser duramente criticados pelo crescimento de vítimas civis. Ontem, oito civis afegãos foram mortos na Província de Helmand, no sul do país, em um bombardeio da OTAN. A queda do helicóptero ocorreu depois de uma típica operação das forças americanas contra os insurgentes do Taleban dentro do Afeganistão. Nessas ações, além de matar os membros do grupo, os EUA também querem retomar o controle da área e isso exige o uso de tropas, aumentando o risco de baixas.Em outras áreas, especialmente na fronteira do Paquistão com o Afeganistão, os americanos passaram a usar aviões não tripulados para atacar lideranças da Al-Qaeda e do próprio Taleban, sem a preocupação de exercer controle sobre a área, historicamente nas mãos de tribos.Ao mesmo tempo que intensifica as suas operações, o governo dos EUA optou nos últimos meses a tentar abrir canais de diálogo com alguns integrantes mais moderados da organização extremista. Uma das dificuldades é encontrar figuras genuinamente influentes no grupo e dispostas a negociar.Na avaliação de analistas, o Taleban continuará sendo uma força no Afeganistão depois da retirada americana e pode ser diferenciado da Al-Qaeda por não estar envolvido no terrorismo internacional.

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