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EUA terão menor força militar desde 1940

Pentágono propõe dura redução de gastos, colocando fim a era de expansão da Defesa

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O Departamento de Defesa americano propôs ontem o mais radical corte de pessoal, estrutura e despesas das três Forças desde a expansão registrada depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Se aprovada pelo Congresso, a mudança levará ao fechamento de bases ao redor do mundo, à aposentadoria de uma frota de aviões desenhados há 40 anos e à diminuição do número de soldados do Exército ao menor patamar desde o período anterior à 2ª Guerra.

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O processo de encolhimento reflete o fim dos 13 anos de combates iniciados com os ataques de 2001 e a exigência de redução de gastos decorrente do rigor fiscal imposto pelo Congresso, que provocou reduções automáticas de despesas a partir de 2013.

A diminuição do número de soldados da ativa e da reserva nas três Forças permitirá que o governo americano invista na modernização e amplie o peso de dois setores vistos como mais adequados aos desafios que o país enfrentará no futuro: segurança cibernética e operações especiais, cujos integrantes passarão de 66 mil para 69,7 mil. Esse grupo integra uma força de elite especializada em combates não convencionais e foi responsável, por exemplo, pela morte do terrorista Osama bin Laden no Paquistão, em 2011.

A reestruturação faz parte do orçamento militar apresentado ontem pelo secretário de Defesa, Chuck Hagel, que será encaminhado ao Congresso na próxima semana. A proposta deve ser aprovada antes de outubro, quando começa o ano fiscal de 2015.

Os EUA concluíram a Guerra do Iraque no ano passado e se preparam para encerrar a presença de forças de combate no Afeganistão em dezembro, onde ainda estão 38 mil soldados.

Depois dessa data, é possível que 10 mil americanos permaneçam em território afegão para dar apoio ao Exército local, mas isso depende de um acordo bilateral de segurança que ainda não foi assinado com o governo do Afeganistão.

Com o encerramento dos conflitos, o Departamento de Defesa pretende realizar uma reengenharia para enfrentar a restrição fiscal em um mundo descrito por Hagel como "mais volátil, mais imprevisível e, em alguns aspectos, mais ameaçador para os EUA", com novas tecnologias e novos centros de poder.

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De acordo com ele, as prioridades levam em conta a necessidade de maior agilidade e sofisticação em um cenário de desenvolvimento de capacidades militares por outras nações, no qual a superioridade americana "nos mares, nos céus e no espaço" não pode ser dada como certa.

Expansão chinesa.

Com o segundo maior orçamento militar do mundo, a China vem expandindo sua presença em todos os campos citados por Hagel e representa um dos maiores desafios para os EUA.

Se o Congresso aprovar a proposta, o Exército sofrerá o mais acentuado corte de pessoal, com redução no número de soldados de 520 mil para algo entre 440 mil e 450 mil. O total de marines cairá de 190 mil para 182 mil.

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O enxugamento na Força Aérea levará à aposentadoria de toda a frota de jatos A-10, que começaram a ser produzidos em 1972, durante a Guerra Fria. Segundo a Boeing, fabricante das aeronaves, existe 350 A-10 em operação nos EUA. O projeto também prevê o abandono dos aviões de reconhecimento U-2, desenhados nos anos 50.

Hagel afirmou que o corte traz "um aumento" dos níveis de risco enfrentados pelo país, à medida que um menor número de soldados reduz a habilidade do Exército de responder simultaneamente a múltiplas contingências de grande porte.

Ainda assim, o secretário ressaltou que os patamares propostos permitirão que o país seja capaz de derrotar agressores em um grande combate, proteger o país e dar apoio às forças aéreas e navais engajadas em um outro conflito.

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Essa capacidade, no entanto, será comprometida se o Congresso insistir nos chamados "sequestros", cortes indiscriminados e drásticos de gastos que entraram em vigor no ano passado.

Seu impacto para 2014 e 2015 foi amenizado por um acordo entre democratas e republicanos, fechado em dezembro, mas ainda assim o nível de gastos em defesa está abaixo do considerado necessário pelo governo.

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