EUA toleram até 5 bombas do Norte

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Por Selig S. Harrison
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Poderá a Coreia do Norte desistir um dia de suas armas nucleares? Para testar suas intenções, apresentei uma proposta detalhada de uma "grande barganha" ao negociador norte-coreano, Li Gun, antes de uma visita a Pyongyang, em janeiro. A Coreia do Norte entregaria à Agência Internacional de Energia Atômica os 30,84 quilos de plutônio que ela já declarou ter. Em troca, os EUA firmariam um tratado de paz encerrando formalmente a Guerra da Coreia, normalizariam as relações diplomáticas e econômicas, fixariam uma ajuda em alimentos e energia de longo prazo, e garantiriam os créditos multilaterais para a reabilitação da infraestrutura da Coreia do Norte. A recusa foi categórica e explícita. O país declarou que o plutônio "já foi transformado em armas". Pyongyang está disposta a abandonar o desenvolvimento de armas nucleares em negociações futuras, mas quando, e se, desistirá do atual arsenal, é uma questão que dependerá da evolução das negociações. Cerca de 40 quilos de plutônio são suficientes para produzir quatro ou cinco bombas, dependendo da qualidade do plutônio e da potência projetada. A negociação implica evitar as medidas hostis inicialmente adotadas pelo governo de George W. Bush com o objetivo implícito de "mudança do regime". O argumento mais forte para a atual estratégia é o de que os EUA não têm nada a temer das armas nucleares da Coreia do Norte. Pyongyang desenvolveu armas por razões de defesa, para fazer frente ao temor de um ataque preventivo dos EUA, enquanto a capacidade nuclear dos EUA no Pacífico dissuadirá qualquer ameaça nuclear do Norte. Pôr fim ao atual relacionamento com base na barganha, em que Pyongyang usa seu programa nuclear para obter concessões dos EUA, seria arriscado. Pyongyang poderia reagir com atos de provocação para garantir que não fosse negligenciada. A estratégia de negociações entre seis partes visa à limitação das armas nucleares norte-coreanas às quatro ou cinco ogivas atualmente reconhecidas. Isso exigiria, em primeiro lugar, um acordo dos EUA relativo às 200 mil toneladas de petróleo, que foram prometidas, mas ainda não entregues à Coreia do Norte, em troca da desativação do reator de plutônio de Yongbyon, e, em segundo lugar, a negociação das condições para o desmantelamento do reator, de forma que o plutônio não possa mais ser reprocessado. Enquanto me encontrava em Pyongyang, encontrei provas de que a posição mais intransigente do Norte está diretamente relacionada à saúde de Kim Jong-il. Fontes próximas a ele me disseram que Kim sofreu um derrame em agosto. Embora ainda "tome as decisões" mais importantes, ele vem transferindo poder ao cunhado, Chang Song-taek, e o efetivo controle da questão da segurança nacional para a Comissão Nacional de Defesa. Consequentemente, em Pyongyang há uma constante luta pelo poder entre a linha dura da Comissão e a ala mais pragmática que quer a normalização das relações com os EUA. * Selig S. Harrison dirige o programa para a Ásia do Centro de Política Internacional, com sede em Washington

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