PUBLICIDADE

EUA, UE e Israel devem unir Hamas e Fatah, diz Jimmy Carter

Ex-presidente acha que ignorar a legítima vitória política do Hamas é um "crime"

Por redacao
Atualização:

O ex-presidente americano Jimmy Carter recomendou nesta terça-feira, 19, aos Estados Unidos, Israel e União Européia (UE) que abandonem a tática de favorecer o Fatah em detrimento do Hamas, para evitar que o conflito entre as facções rivais se aprofunde. Carter, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2002, fez a sugestão durante uma conferência sobre direitos humanos em Dublin, na Irlanda. Ele considera um "crime" o fato de o atual governo americano recusar-se a aceitar a vitória eleitoral obtida pelo Hamas no ano passado. Persistente fomentador da democracia, Carter argumenta que o Hamas, além de ter sido eleito justa e democraticamente para governar o povo palestino, provou ser mais organizado nos embates políticos e militares com o Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Na semana passada, o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza depois de capturar todas as instalações de segurança leais ao Fatah no território palestino litorâneo. Em resposta, Abbas dissolveu a coalizão de unidade nacional e impôs um governo controlado pelo Fatah na Cisjordânia. Carter, de 83 anos, observou a existência de um consenso entre EUA, UE e Israel de que o boicote político e econômico à ANP deveria ser suspenso, mas somente em favor do Fatah na Cisjordânia, excluindo a Faixa de Gaza, dominada pelo Hamas. Segundo ele, porém, tal postura representa "um esforço para dividir os palestinos em dois povos" e o ideal seria que os dois territórios fossem tratados de forma igualitária. "Tentar dividir os palestinos em dois povos agora é um passo na direção errada. Todos os esforços da comunidade internacional deveriam se concentrar na reconciliação entre eles, mas não há esforços externos nesse sentido", opinou. Durante discurso no 8º Fórum Anual de Direitos Humanos, o ex-presidente americano lembrou que monitores do Centro Carter fiscalizaram as eleições palestinas de 2006, vencidas pelo Hamas por ampla margem. De acordo com ele, os observadores da organização de fomento à democracia por ele chefiada constataram que a votação transcorreu "de forma ordeira e justa" e que o Hamas triunfou, em parte, por causa de sua "astúcia na seleção dos candidatos". Dividido e corrompido, o Fatah lançou candidatos múltiplos para uma mesma cadeira. Ao invés de encorajar a adesão do Hamas à política institucional, EUA e Israel, com a aquiescência da UE, tentaram subverter o resultado das urnas boicotando o Hamas e ajudando Abbas a manter-se no comando político e militar nos territórios palestinos, denunciou Carter. "Essa ação foi criminosa", prosseguiu o ex-presidente dos EUA numa entrevista coletiva concedida depois de seu discurso. "Os Estados Unidos e Israel decidiram punir coletivamente o povo palestino e fizeram tudo o que puderam para impedir um entendimento entre o Hamas e o Fatah", prosseguiu. Carter disse ainda que os EUA e outros países forneceram armas amplamente superiores ao Fatah com a esperança de que o grupo, considerado moderado, "derrotasse o Hamas em Gaza". Entretanto, o Hamas venceu o Fatah por ser "mais bem preparado e mais disciplinado".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.