EUA usarão a estratégia do inimigo

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Por Gilles Lapouge
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No Afeganistão, os EUA "mudam de tática". Boa ideia. A guerra contra o Taleban virou uma calamidade. No entanto, esse país ocupa um lugar crucial na "nova diplomacia" americana. Em sua campanha, o presidente Barack Obama disse que, no cenário mundial, o Afeganistão, ameaçado pelos loucos de Deus, era uma peça essencial. Os EUA podem deixar o Iraque, mas no Afeganistão são obrigados a resistir. O problema é que o Taleban não liga a mínima para o que ele diz. Em vez de se acalmar, ou fugir, os insurgentes estão cada vez mais numerosos. Assim, o presidente americano concluiu que, como as coisas não avançam, é necessário mudar de tática. Por isso, o secretário da Defesa americano, Robert Gates, anunciou que o comandante das forças armadas no Afeganistão, o general David McKierman, será substituído pelo também general Stanley McChrystal. Nada a lamentar. Soldado nos moldes clássicos, com pouca imaginação, McKierman cometeu muitos desatinos, sendo que o último foi a morte de uma centena de civis em bombardeios estúpidos. Para conquistar o coração dos afegãos (admitindo que ainda tenham um, depois do que estão sofrendo há quatro anos), o massacre dessa centena de civis não parece ter sido uma boa política. Se chegamos mais perto do horrível formigueiro do Taleban na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão (quase sempre cúmplices) fica claro que os EUA vêm sendo cozidos a fogo lento em um caldeirão semelhante ao do Vietnã, onde tantos soldados americanos pereceram. Mas substituir por quem o general destituído? Por um outro general, mas com outra formação e outros métodos que não o de bombardeios dirigidos do céu. McKierman era um "clássico", um espírito pouco ágil. ARGÉLIA Portanto, pensou Obama, vamos colocar em seu lugar um general com métodos opostos ao dele. O general McChrystal, homem das sombras, da contrainsurgência, perito em operações especiais. Ele capturou Saddam Hussein e alguns líderes da Al-Qaeda. McChrystal combaterá o Taleban usando as mesmas armas usadas por eles com bastante sucesso: a escuridão da noite, a astúcia, a camuflagem, as armadilhas, a emboscada, a invisibilidade. Esse novo general não é muito conhecido, mas há um detalhe que nos coloca em alerta: ele é descrito como um "trator" e suas forças especiais cometeram violências contra prisioneiros iraquianos. Houve sanções graves contra essas forças de elite. Mas não vamos fazer prognósticos. Que ele tenha sucesso. Um fato, contudo, vem à mente. Há meio século, na guerra atroz da França na Argélia, contra os árabes independentistas, os oficiais franceses também eram especialistas da contraguerrilha, do combate nas sombras, da guerra psicológica. Foi um desastre. Foi uma época abominável que atingiu um nível de horror inédito, de ambas as partes. No final, chegou-se ao resultado que qualquer idiota conseguiria prever: em 1962, o general Charles de Gaulle foi obrigado a dar a independência para a Argélia. *Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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