PUBLICIDADE

EUA: Vices atacam candidatos à presidência em debate

Por Nalu Fernandes
Atualização:

Assim como o debate dos presidenciáveis dos Estados Unidos, o tema de abertura do debate dos vice-presidentes foi pautado pela situação da economia e do mercado financeiro no país. Os candidatos, que se conheceram pessoalmente no debate, evitaram ataques diretos e preferiram voltar artilharia para os candidatos à Presidência do país. Sobrou até para o vice de George W. Bush, Dick Cheney, com o candidato democrata à Vice-Presidência, Joe Biden, dizendo que ele tem sido um dos vices "mais perigosos da história dos EUA", em referência ao poder que, supostamente, teria chamado para si. No debate realizado na Washington University, em St. Louis, Estado do Missouri, os candidatos convergiram na avaliação de que a próxima administração precisa focar nas famílias, na classe média, mas o consenso parou por aí e, então, apareceram diferenças claras sobre como esta e outras questões serão abordadas pelos dois partidos uma vez no poder. O democrata criticou que a chapa republicana vai dar alívio tributário para corporações, principalmente, petroleiras. A candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, argumenta que é necessário cortar imposto para que a pequena empresa possa prosperar. Os candidatos também disputaram quem está mais autorizado a falar em mudança, ou seja, qual dupla de presidente e vice-presidente irá trazer mudança real para o país na próxima administração. A campanha do senador Barack Obama foi construída em cima do slogan mudança, mas os republicanos têm usado o tema em comerciais e em discursos do candidato John McCain. O democrata, que é senador por Delaware, reiterou que a política da administração atual é de "fiasco absoluto" e os democratas "não vão insistir no que esta administração tem insistido", enquanto a governadora do Alasca ressaltou que "mudança positiva está vindo. Aprendemos com os erros desta administração", reconheceu. A primeira pergunta feita pela moderadora, Gwen Ifill, apresentadora e editora do programa Washington Week da TV pública PBS, foi sobre a rejeição da Câmara à versão inicial do pacote de resgate. Na opinião do democrata, o que foi visto foi "o pior e melhor de Washington, conseqüência da política econômica dos últimos oito anos, que foram as piores políticas econômicas que já tivemos". Em resposta, a governadora do Alasca emendou: "Nossa economia está ferida, e o governo federal não forneceu a supervisão que precisamos e merecemos". Palin reconheceu que o país está em situação de crise, mas atribuiu o fato à "ganância e corrupção em Wall Street", mantra levantado ao longo de todo o debate pela candidata republicana. Biden, sorridente em grande parte do debate, aproveitou para trazer à tona os comentários do republicano McCain de que a economia estava sólida e o reconhecimento feito, semanas depois, de que havia uma crise. "Isto não faz dele uma pessoa má, mas faz dele (uma pessoa) sem contato com a realidade", alfinetou. Segundo a republicana, os comentários de McCain referiam-se à força de trabalho no país, e não à economia propriamente dita. "A força de trabalho americana é a maior neste mundo, com a engenhosidade e ética que está enraizada nela". À pergunta sobre quem é o culpado da bagunça subprime, a republicana foi rápida: "Foram os financiadores predadores". Citando novamente a "ganância e corrupção em Wall Street, acrescentou: "Nós precisamos parar isso. Vamos nos livrar desta corrupção e dizer que nunca mais vamos ser explorados por aqueles que estão gerenciando nossos recursos e garantir que governo federal vai supervisioná-los". É preciso aprender, acrescentou ela, a não viver além dos próprios meios. "Não é culpa do povo americano mas temos oportunidade para aprender a lição". Biden reagiu citando que o candidato democrata há dois anos havia alertado sobre os problemas do subprime e recomendado que era preciso maior regulação dos mercados. "McCain é bom homem, mas acreditava que a resposta correta no início era desregular. Acreditava que Wall Street poderia se regular sozinha, enquanto Obama acreditava que era necessário regulação". Ao final, Biden, comprovando a fama de não ter travas na língua, falou com todas as letras que McCain "não era maverick nenhum" quando a questão estava ligada a assuntos "essenciais" do cotidiano dos americanos. Os candidatos à vice ainda trataram de plano de saúde, casamento de mesmo sexo e política externa. Os dois candidatos disseram que não apóiam o casamento homossexual, mas Biden dá suporte aos direitos civis e legais da união gay. Palin se descreveu "tolerante" sobre a questão e, com o pai na platéia, disse que na sua família há "diversidade". Quando chegou no tema aquecimento global, as diferenças nas políticas de energia também ficaram evidentes. Palin não quis citar que o aquecimento global se deveria à ação humana e disse que o importante não era "discutir as causas, mas debater como vamos limpar o planeta e encorajar outras nações a se juntar conosco". "Isto explica as grandes diferenças entre nós", reagiu o democrata. "Nós sabemos a causa: é a atuação do homem" e para combater é preciso saber a causa, emendou. Quando o assunto foi relações exteriores, Palin parece ter feito lição de casa com relação às críticas de que teria falta de conhecimento em política externa. Ao longo do debate, a republicana citou nominalmente países e os chefes de Estado que têm alguma forma de conflito com os EUA. À difícil questão de como agiriam se precisassem assumir a Presidência dos EUA na falta de seus companheiros na Casa Branca, o democrata disse que "levaria para frente as políticas de Obama, pois concordo com as principais questões", disse, ilustrando que há pontos de discórdia entre os dois. A republicana reconhece que não concorda "100%" com McCain, mas diz que "continuaria o bom trabalho com o qual ele está comprometido, de (acabar) com a corrupção e ganância de Wall Street e Washington".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.