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EUA x Chávez: farpas batem no limite seguro

Por Agencia Estado
Atualização:

O agravamento do confronto entre Venezuela e os EUA, na semana passada, expôs as divergências na administração de George W. Bush sobre como lidar com o presidente Hugo Chávez e deixou os dois países perto do limite do que podem fazer contra o outro sem prejudicar seus próprios interesses. "A situação é perigosa, mas a verdade é que não há muito que os EUA possam fazer contra Chávez", disse ao Grupo Estado Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano. "A oposição interna na Venezuela é frágil e desorganizada, Washington não tem credibilidade nem apoio na região para tentar isolar Chávez e não pode aplicar sanções econômicas porque, para serem eficazes, elas teriam de envolver o petróleo e provocariam novos aumentos dos preços de combustíveis nos EUA, que é a última coisa que Bush precisa neste momento." Da mesma forma, é reduzido também o espaço para Chávez radicalizar, avaliou Hakim. "Ele não está em condições de levar adiante a ameaça de cortar o suprimento de petróleo para os EUA", disse o presidente do Diálogo Interamericano. "Chávez depende da receita do petróleo para pagar os programas sociais que sustentam sua popularidade em casa", explicou, lembrando que os EUA refinam e compram mais de 60% do petróleo venezuelano e uma reconversão da produção não seria fácil nem rápida. "Em curto prazo, os esforços de alguns setores de Washington para demonizar Chávez e fazer ele um novo Fidel Castro operam politicamente em favor de Chávez entre os venezuelanos e na região." Mas, segundo Hakim, se o líder venezuelano esticar a corda dará motivos para a administração Bush convencer os americanos de que ele representa uma ameaça à segurança do país e de nada valerá a simpatia que Chávez ganhou em algumas cidades americanas com seu programa de fornecimento de óleo combustível a preços subsidiados para os pobres. "Lembremos que Fidel é genuinamente odiado pelo americanos." A briga com Chávez divide o governo Bush. A escalada retórica do secretário de Defesa Donald Rumsfeld, que na última quinta-feira comparou Chávez a Hitler, desagradou não apenas o Departamento de Estado, que nos últimos meses baixara deliberadamente de tom em relação a Caracas. Sob orientação da secretária de Estado Condoleezza Rice, nos últimos meses de 2005 a diplomacia americana adotou a estratégia de agir quando considera necessário, mas falar o menos possível, após constatar que as respostas a cada provocação de Chávez faziam seu jogo e reforçavam seu papel de líder das forças antiamericanas na região. Mais significativamente, talvez, o ataque de Rumsfeld a Chávez surpreendeu o próprio comandante militar dos EUA para a América Latina e Caribe, general Bantz Craddock. Falando no mesmo dia numa conferência sobre segurança hemisférica em Miami, Craddock disse que considera exagerados os temores de a região vir a ser tomada por governos populistas. O general, que foi ajudante de ordens de Rumsfeld antes de assumir o posto atual, deixou clara a disposição da administração de cooperar com o novo presidente da Bolívia, Evo Morales. Craddock reconheceu que iniciativas de Washington para bloquear compras de armas por Caracas contribuíram para desgastar a relação entre os militares dos dois países. Mas disse esperar "que se mantenha as relações (com Caracas)". Numa crítica aparentemente dirigida ao próprio Pentágono, Craddock disse que "a situação requer obras e não palavras" e fez um recomendação: "Vamos ficar frios."

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