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Europa começa a se curvar à idéia de atacar o Iraque

Por Agencia Estado
Atualização:

A coisa está ficando feia para o Iraque. Dos três "países-perigosos" que estão sob a mira de Bush (Coréia do Norte, Iraque e Irã), é realmente o Iraque o mais bem posicionado para receber um dilúvio de bombas americanas. Para os entendidos a questão não é se Bush vai ou não atacar, e sim quando ele vai atacar o Iraque. As vantagens? Os Estados Unidos arrependeram-se amargamente de não ter, durante o mandato do pai do atual presidente, aniquilado o regime de Saddam. Por outro lado, os americanos estão entusiasmados "com seu triunfo no Afeganistão": se Cabul caiu tão depressa, Saddam, cujo país é plano, cairá mais depressa ainda. Quanto às reações, não há o que temer. Primeiramente, a população iraquiana ficará muito contente de se ver livre do tirano (viram a alegria dos afegãos com a queda do Taleban). É verdade que os países árabes ficarão irritados, inquietos, mas a "guerra" será tão fulgurante que eles não terão tempo de se mobilizar. Tudo estará acabado antes que os árabes possam se manifestar. Resta a Europa. Mas, em primeiro lugar, Washington não liga a mínima. Se a Europa está contente, tanto melhor! Se a Europa resmunga, pior para ela! Além disso, a Europa está evoluindo a passos largos: a França, que sempre foi a mais ardente partidária da luta antiamericana, e por muito tempo contrária à idéia de atacar Bagdá, começa a fraquejar". A França compreende hoje que é preciso "impedir que o Iraque seja uma ameaça". Deseja o "recomeço das vistorias da ONU". Mais do que isso: a França, que desdenhou por muito tempo o perigo iraniano, reconhece hoje: "Os serviços secretos franceses dispõem de informações preocupantes sobre o que Saddam pode ter feito nesses últimos anos, em matéria de armamento" (A França não acredita em uma arma nuclear iraquiana, mas não tem tanta certeza em relação às armas químicas e biológicas). Além dos perigos de um Iraque rearmado, além de uma contribuição iraquiana ao terrorismo (o papel do Iraque nos atentados de 11 de setembro nunca foi comprovado), o ataque de Bush ao Iraque deveria ser interpretado em um contexto estratégico bem mais amplo, bem mais ambicioso: a substituição, em Bagdá, de um tirano antiamericano (Saddam Hussein), por um poder sob as ordens do Ocidente seria um primeiro passo para remodelar a geografia do mundo. Isso nos remete, evidentemente, à questão do petróleo. É verdade que Bush não fez caso da ira ecologista e européia ao continuar a exploração petroleira no Alasca. Mas o Alasca não será suficiente para suprir o enorme consumo energético dos EUA. Nesse caso, não seria conveniente instalar, em todas as grandes regiões produtoras de petróleo, poderes totalmente submissos às necessidades e às ordens dos americanos? Pensando no futuro, Washington começa a fincar lenta e vigorosamente o pé no coração da Ásia Central. A guerra do Afeganistão nos ajuda mais uma vez a decodificar seus projetos atuais: Washington sonha em implantar uma imensa Zona Aliada na Ásia Central até as portas dos três estados gigantes e incontroláveis (por motivos diversos): Índia, China e Rússia. Nessa visão planetária, o Iraque teria seu lugar: depois de ter substituído Saddam por um amigo dos Estados Unidos, o Iraque se tornaria o eixo da presença norte-americana, nessa vasta região, fragilizada pela virulência da pregação islamita e pela proximidade dos três Estados gigantes já mencionados.

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