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Europa fecha as portas para imigrantes ilegais da Bolívia

Exigência do visto foi anunciada em 2006 para controlar a entrada de estrangeiros que diziam viajar como turistas mas vivem e trabalham sem documentos

Por Agencia Estado
Atualização:

Com a entrada em vigor do visto que será exigido pela Europa a partir do próximo domingo, 1, parte da Europa fechará as portas a centenas de milhares de bolivianos que tentar emigrar ilegalmente, principalmente para a Espanha, com a esperança de melhorar de vida e fugir da falta de emprego e de perspectivas em seu país. O visto também estará em vigor na Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal e Suécia, integrantes do acordo de Schengen, mas a Espanha era o principal objetivo. Os últimos dias foram uma odisséia para milhares de bolivianos que tentavam escapar antes de domingo da falta de trabalho e de possibilidades na Bolívia, país no qual dois terços dos habitantes vivem com menos de US$ 2 por dia, segundo órgãos internacionais. Há denúncias de fraudes, incidentes violentos em aeroportos e agências de viagens, greves de fome e famílias com crianças dormindo há dias no chão dos terminais. Também existem casos de executivos da companhia aérea boliviana LAB detidos por cancelar quatro vôos a Madri que tinham sido completamente vendidos. Até a Força Aérea boliviana organizou vôos charter a países intermediários, como o Brasil, para as pessoas que não conseguiam lugar em aviões diretos a Madri. Com isso, algumas famílias ficaram divididas, já que parte delas conseguiu partir e chegar à Espanha enquanto outros ficaram nos aeroportos bolivianos ou eram repatriados a partir do aeroporto de Barajas, em Madri, segundo testemunhos divulgados na imprensa local. Aumento nas viagens O governo boliviano, liderado pelo presidente Evo Morales, limitou-se a jogar a culpa nos regimes anteriores e denunciar supostos "tratamentos desumanos" de autoridades européias contra os emigrantes devolvidos por não estar com os documentos regularizados. A companhia aérea boliviana Aerosur despachou na última sexta-feira dois últimos vôos cheios para Madri, antes da entrada em vigor do visto, e tem outro programado para domingo, mas com 35% a menos de passageiros, disse o vice-presidente da empresa, Oscar Vargas. Na última semana, o número de bolivianos que chegaram ao aeroporto de Barajas, em vôos diretos ou com escalas em outros países, foi de 1.500 por dia, em média. Além disso, há o drama de 82 bolivianos que viajavam no cruzeiro "Sinfonia", a partir do Brasil, e tentaram desembarcar, sem sucesso, nas cidades espanholas de Santa Cruz de Tenerife, Cádiz e Valencia, e depois na italiana Gênova. Desses bolivianos, 79 foram repatriados e voltaram na sexta-feira à noite a Santa Cruz, cidade no leste da Bolívia. Exigências A exigência do visto foi anunciada em 2006 como uma medida obrigatória, devido à explosão migratória de bolivianos que diziam viajar como turistas, mas ficaram vivendo e trabalhando na Europa sem documentos. Especialmente na Espanha, onde os bolivianos eram 8 mil em 2004 e agora são entre 200 mil e 300 mil, dos quais apenas 60 mil estão com os documentos regularizados, segundo números da embaixada espanhola em La Paz. "Não temos nada contra os turistas, mas temos problemas com a migração ilegal, com o propósito de chegar aos países para trabalhar ilegalmente", disse recentemente o embaixador da Alemanha em La Paz, Erich Riedler. O embaixador da Espanha na Bolívia, Juan Francisco Montalbán, acrescentou que o visto busca dar proteção trabalhista e social a milhares de bolivianos "que querem viver e trabalhar na Espanha", mas até agora tinha usado irregularmente o fato de que não era preciso visto para uma viagem turística. Antes da Bolívia, entre os países latino-americanos, a exigência de visto já havia sido aplicada à República Dominicana, Cuba, Equador, Peru e Colômbia. Segundo o Governo de Morales, 500 mil bolivianos saíram do país desde 2004, devido a "vestígios da política neoliberal" de Administrações anteriores, que empurraram as pessoas a buscar trabalho em outras nações, segundo disse o porta-voz presidencial, Alex Contreras. Números oficiais indicam que foram emitidos na Bolívia mais de 194 mil passaportes, em 2004; mais de 133 mil, em 2005; mais de 164 mil, em 2006 (primeiro ano no poder de Morales), e 24 mil entre janeiro e fevereiro passados. Uma pesquisa publicada na imprensa local em 2006 mostrou que mais da metade dos bolivianos (54%) emigraria para outro país se pudesse, e que dois em cada três já tinham um parente no exterior. Órgãos internacionais calculam em 3 milhões o número de bolivianos no exterior, quase um terço dos 9,8 milhões de residentes na Bolívia.

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