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Europa mescla esperança e prudência

Pesquisas revelam otimismo com promessas de maior cooperação

Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

Milhões de pessoas acompanharam ontem ao vivo em festas na Europa a posse do novo presidente americano, Barack Obama. Para a maioria, o momento é de esperança, mas muitos admitem que será difícil atender a todas as expectativas. "Todos queremos acreditar que estamos entrando em uma nova fase no mundo, mesmo que não seja totalmente verdade", disse Paul Birtheim, advogado alemão que participou de uma festa em Genebra. Uma pesquisa publicada pela BBC e pela Universidade de Maryland concluiu que 67% dos entrevistados em 17 países acreditam que Obama fortalecerá as relações dos EUA com o resto do mundo. Na Europa, 80% dos entrevistados disseram acreditar que a relação entre seus países e Washington mudará para melhor. A prisão dos EUA na Baía de Guantánamo, os conflitos no Iraque e Afeganistão, Israel, Irã, mudanças climáticas e crise econômica dominarão a agenda entre os dois lados do Atlântico. Em nome da Europa, a França já redigiu uma proposta de "novo pacto transatlântico", propondo, por exemplo, a reforma de organizações internacionais como o G-8, para que países emergentes, entre eles o Brasil, possam ser incluídos. "As portas da cooperação voltaram a se abrir entre a Europa e os EUA", disse ao Estado o embaixador da União Europeia para as organizações internacionais, Eckhart Gutt. Os chefes de Estado e de governo também se apressaram em saudar o novo presidente, começando pelo premiê britânico, Gordon Brown. Para ele, o americano representará um "novo capítulo na história americana mundial". Nicolas Sarkozy, presidente da França, garantiu que vai trabalhar "de mãos dadas com os EUA para superar, juntos, os imensos desafios do mundo". Mas para o chanceler da França, Bernard Kouchner, Obama desfruta atualmente de um "estado de graça mundial" que não durará eternamente. Ele alerta que o novo presidente não tem uma "varinha mágica" para resolver todos os problemas dos EUA - e muito menos os da Europa. Já o italiano Silvio Berlusconi foi direto ao ponto e pediu que Obama e a Europa enfrentem juntos a crise financeira e as guerras no Oriente Médio e no Afeganistão. José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, apelou para que as relações entre os dois lados do Atlântico sejam aprofundadas. "Essa será a forma de lidar com os grandes desafios de nossa era", disse. "Por enquanto, estamos em lua-de-mel, mas há o risco de ela não durar nem dez dias", afirmou o deputado socialista suíço, Guy Mettan. "Manter o entusiasmo será um desafio", admitiu Steven Kull, um dos autores do levantamento da BBC. A sondagem relevou que apenas na Rússia e no Japão menos da metade da população acredita que Obama mudará a relação dos EUA com o resto do planeta. Na América Latina, a pesquisa foi realizada apenas no Chile e no México. Em ambos os países, mais de 65% da população espera melhores relações com Washington. GUANTÁNAMO Mesmo com um dia cheio de celebrações, os europeus sabem que logo terão de começar a dar respostas às iniciativas de Obama. Uma delas é o fechamento da prisão de Guantánamo e a transferência de prisioneiros para outros países, entre eles os europeus. Para o Comissário de Justiça da UE, Jacques Barrot, a iniciativa pode "abrir uma nova parceria entre a Europa e os Estados Unidos. Isso mostrará que podemos lutar contra o terrorismo respeitando as leis e a Justiça", disse. Mas nem todos os governos europeus concordam com a ideia. "Os americanos criaram Guantánamo. Eles é que precisam resolver isso agora", disse a ministra da Justiça da Áustria, Maria Fekter. A Holanda também avisou que não está disposta a receber prisioneiros.

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