
31 de julho de 2013 | 02h09
A União Europeia apertou ontem a pressão contra o governo interino do Egito e as Forças Armadas, responsáveis pelo golpe de Estado do dia 3. No Cairo, a chanceler europeia, Catherine Ashton, encontrou o presidente deposto Mohamed Morsi e voltou a insistir pela abertura de negociações políticas. Em Paris, o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, pediu ao Exército egípcio que deixe o poder.
A ofensiva europeia - segundo maior doador internacional ao Egito - teve início na noite de domingo, dia seguinte a um massacre 80 de islamistas no Cairo, que elevou a mais de 300 os mortos desde o golpe de Estado. Ashton encontrou-se com o chefe do Estado-Maior, general Abdel Fattah al-Sisi, comandante da intervenção militar que tirou Morsi do poder, e com autoridades do governo e da Irmandade Muçulmana, grupo religioso que apoia o presidente deposto. O objetivo é estabelecer o diálogo entre as partes.
A busca por negociações fracassou até aqui, mas Ashton conseguiu uma vitória: ela se reuniu com Morsi, algo inédito desde o golpe. A chanceler europeia foi levada de helicóptero para um centro de detenção não identificado, onde pôde encontrar o ex-chefe de Estado por duas horas. "Morsi está bem", garantiu. Segundo a britânica, ele tem acesso a informações, pela TV e por jornais, sobre o impasse vivido pelo país. "Tivemos uma conversa amigável, aberta e direta", afirmou, sem revelar o conteúdo.
Em Paris, Fabius aumentou a pressão sobre os militares egípcios. O chanceler francês pediu que o Exército "se retirasse" do núcleo do poder, para que "o regime que se instalou retorne o mais rápido possível em direção a uma abordagem democrática e recuse a violência". "Pedimos a rejeição da violência e a liberação dos prisioneiros políticos, incluindo o presidente Morsi", reiterou Fabius.
O ministro francês classificou a situação do Egito de "muito crítica" e afirmou que a França só não usa a definição jurídica de "golpe de Estado" porque isso representaria a suspensão dos auxílios econômicos internacionais ao país. "Não é o momento de tornar a situação econômica mais difícil", ponderou.
Além da França, a Alemanha já havia feito declarações enfáticas contra a intervenção militar no início de julho.
Protestos. No fim da tarde de ontem, dezenas de milhares de islamistas deram início a uma nova manifestação de rua no distrito de Nasr City, onde os partidários de Morsi e a Irmandade promovem uma concentração desde 28 de junho, sem interrupções. A marcha "contra a brutalidade policial", que tentava reunir um milhão de pessoas, começou nas imediações do Ministério da Defesa, na mesma região do Cairo em que fica a mesquita Rabaa al-Arawiya, base das manifestações.
Apesar das ameaças das Forças Armadas, que na última semana prometeram "resolver" a mobilização oposicionista no Egito, a Irmandade promete manter a mobilização para advertir a comunidade internacional sobre a insatisfação interna contra o golpe. "A única palavra para descrever o sentimento na concentração antigolpe de Rabaa é 'desconfiança'. Se Deus quiser, ninguém vai dispersar a mobilização a menos que os manifestantes escolham fazê-lo", afirmou ontem pelo Twitter o porta-voz da Irmandade, Gehad al-Haddad.
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