Europa pisa no freio com relação a guerra no Iraque

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O Iraque? A Europa, como um todo, ou, mais precisamente, os grandes países europeus, estão pisando no freio com toda a força. A Inglaterra (tendo como animador Tony Blair) começou imitando os Estados Unidos, como sempre fez, preparando-se com entusiasmo para o combate. Mas o entusiasmo está arrefecendo. A opinião pública é tão crítica que Blair começa a recuar. A França sempre foi reticente. Jacques Chirac multiplicou as iniciativas diplomáticas para esfriar os ardores de George W. Bush. Mas fez isso a sua maneira, fluída, contraditória: um dia "sim", outro "não", um terceiro "talvez". Há dois dias, Chirac voltou a uma oposição mais franca. Mas o país mais firme na condenação continua sendo a Alemanha, do chanceler Gerhard Schroeder. Este jamais mudou de opinião: durante sua campanha, antes das eleições de 28 de setembro, que renovou seu mandato de chanceler, ele martelou que a Alemanha não faria nada no caso do Iraque. Desde então, mantém o mesmo discurso. Há dois dias, reafirmou sua posição. Três princípios o orientam: 1º - A Resolução 1.441 da Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser rigorosamente aplicada; 2º - É preciso tentar de tudo para impedir a guerra; 3º - Em nenhuma hipótese a Alemanha participará de uma guerra contra o Iraque. Os democrata-cristãos alemães (direita) estão furiosos. Mas Schroeder não vacilou. Este episódio é excepcional na Alemanha do pós-Guerra ? até agora sempre ligada aos Estados Unidos. É esta a primeira vez desde 1945 que a Alemanha manifesta uma divergência com Washington em uma questão fundamental. Os democrata-cristãos, conservadores, denunciam este desvio da diplomacia alemã. Acusam Schroeder não apenas de estar se afastando dos EUA, mas também, e mais gravemente, da própria história alemã. Esta insolência alemã é talvez um dos efeitos longínquos e indiretos da reunificação da Alemanha, que se encontra enfim numa situação de potência - uma potência ao mesmo tempo grande, coerente e emancipada de seu "padrinho" norte-americano. Alguns se aproveitam da situação atual dos países europeus em face dos projetos norte-americanos no Iraque para deplorar que a União Européia não tenha conseguido jamais forjar para si uma diplomacia comum. Se nascesse essa diplomacia européia, a UE poderia finalmente definir, defender e aplicar uma diplomacia original, capaz de contribuir para reintroduzir um pouco de equilíbrio no mundo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.