Europa volta a impor restrições a turistas dos EUA por causa da covid-19

UE retirara os americanos da chamada 'lista segura' de países que não deveriam enfrentar restrições; as recomendações, porém, não são juridicamente vinculativas aos países membros

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Por Redação
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BRUXELAS - A União Europeia voltou a recomendar nesta segunda-feira, 30, que seus 27 países membros restabeleçam restrições aos viajantes americanos, uma mudança que afeta principalmente pessoas não vacinadas. A medida seria uma resposta às taxas crescentes de novas infecções por coronavírus e internações nos EUA nas últimas semanas.

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As autoridades europeias retiraram os EUA da chamada “lista segura” do bloco de países que não deveriam enfrentar restrições de viagem. As recomendações, porém, não são juridicamente vinculativas e cabe às nações individuais decidirem se as implementarão.

Ficou estabelecido que se os países europeus aceitarem a prova da vacinação, eles devem continuar a admitir viajantes inoculados, independentemente de onde sejam, desde que tenham recebido uma comprovação de imunização completa com uma vacina aprovada pelo bloco.

Visitantes na Torre Eiffel, em Paris; bloco retoma restrições a americanos Foto: Michel Euler/AP

“As restrições podem variar de estado para estado, mas é amplamente esperado que americanos totalmente vacinados ainda mantenham acesso irrestrito à União Europeia”, disse um diplomata ao jornal The Washington Post, falando sob condição de anonimato para discutir as deliberações internas. 

A proposta vem após semanas de deliberação e em meio a um surto cada vez pior nos EUA. O primeiro levantamento das restrições na União Europeia aos viajantes americanos foi em junho, uma decisão que refletia uma melhora no quadro epidemiológico e reabriu as fronteiras no auge do verão (Hemisfério Norte), quando as economias duramente atingidas do sul da Europa estavam desesperadas por um novo influxo de gastos com turismo.

Mas muita coisa mudou desde então. Os níveis de vacinação em muitos países europeus ultrapassaram os dos EUA, e a variante Delta – muito mais contagiosa – alimentou uma quarta onda de infecções.

“Os EUA tiveram passe livre durante o verão, embora a situação em muitas partes do país tenha se deteriorado dramaticamente”, disse Jacob Kirkegaard, um membro sênior do Fundo German Marshall, que tem monitorado as políticas de viagens.

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De acordo com as recomendações oficiais do bloco, os países não deveriam estar na “lista segura” se relatarem mais de 75 novos casos de covid-19 por 100 mil residentes nos últimos 14 dias. Os EUA já registravam cerca de 400 novos casos por 100 mil pessoas em 10 de agosto. 

Mas o bloco evitou endossar novas restrições e, em vez disso, sinalizou que estava monitorando a situação epidemiológica em países onde a situação obscura se deteriorou, incluindo os EUA.

Quase três semanas depois, as coisas só pioraram: os EUA relataram mais de 620 novos casos por 100 mil pessoas – mais de oito vezes o limitar estabelecido pela UE – de acordo com uma contagem do Washington Post.

Turistas jogam moedas na Fontana diTrevi, em Roma Foto: Gregorio Borgia/AP

Com o fim do verão e temores de que o clima mais frio traga maior disseminação, as autoridades da UE decidiram que não podiam mais tolerar o alto nível de novos casos nos EUA. Esse é o capítulo mais recente da saga de restrições a viagens que tem sido uma fonte de tensões transatlânticas crescentes. Mesmo quando a Europa fez concessões aos viajantes americanos, os EUA se recusaram a retribuir.

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A maioria dos viajantes europeus foi impedida de entrar nos EUA desde o início da pandemia. O presidente Donald Trump suspendeu as regras perto do final de seu mandato, em janeiro, mas o presidente Joe Biden as restabeleceu rapidamente após assumir o cargo. Os críticos disseram que a proibição – que é muito mais rígida do que a política europeia – está prejudicando os negócios e mantendo famílias divididas. 

As recomendações da UE abrem um precedente importante porque as fronteiras são abertas entre os Estados membros e há interesse em manter uma posição unida. 

Mas como a orientação não é obrigatória, os países divergiram dela nos últimos meses. A Grécia, por exemplo, abriu para turistas americanos em abril, antes de seus vizinhos. E em meados de agosto, a Alemanha acrescentou os EUA à sua lista de “áreas de alto risco”, o que significa que os viajantes não vacinados precisariam ser colocados em quarentena ou testados na chegada. 

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Não está claro quais países devem aprovar as novas regras. Alguns governos podem decidir admitir os não vacinados somente após a quarentena ou o teste; outros poderiam ir além e sujeitar até mesmo os vacinados a essas medidas. Kirkegaard disse que é improvável que isso mude a experiência da maioria dos americanos vacinados que viajam para a Europa, e ele disse que países com grandes interesses econômicos nos turistas – como Grécia, Itália e Espanha – são os candidatos mais prováveis a ignorar as regras. A grande questão, acrescentou ele, será como os governos continuarão a verificar o status de vacinação dos viajantes.

Na maioria dos casos, os cartões de vacinação dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) devem ser suficientes, disseram os especialistas, mas as negociações para um passaporte UE-EUA de vacinação digital ainda estão em andamento.

As novas recomendações da União Europeia também removem da “lista segura” Israel, Kosovo, Líbano, Montenegro e Macedônia do Norte. Grupos comerciais criticaram a medida, dizendo que representa um retrocesso significativo e continuaria a prejudicar as economias.

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