Europeus acusados de raptar crianças enfrentam tribunal no Chade

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Por BETEL MIAROM
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Os 16 europeus detidos no leste do Chade por tentarem retirar ilegalmente do país 103 crianças africanas foram levados na sexta-feira sob forte esquema de segurança para a capital N'Djamena, onde serão julgados. Os nove franceses e sete espanhóis foram embarcados num avião militar na cidade de Abeché, leste, onde foram presos na semana passada. Eles são acusados de sequestro e fraude. Ao chegarem à capital, no oeste do país, foram levados sob escolta para a sede do Judiciário, onde compareceram diante do procurador-geral e do juiz de instrução do caso. Um dos franceses, o fotógrafo Jean-Daniel Guillou, gritou para os jornalistas que estava sendo detido "ilegalmente". Ele pode ser condenado a 5 a 20 anos de trabalhos forçados. O promotor Masgaral Tangar disse que as autoridades começaram no sábado a recolher formalmente os depoimentos dos réus. Seis dos franceses pertencem à ONG Arca de Zoé, que supostamente encaminhava órfãos na guerra civil da vizinha Darfur (Sudão) para adoção por famílias européias. Os três outros são jornalistas. "Pode-se culpá-los por terem pensado em certo momento que iriam conseguir salvar mais de cem crianças de um verdadeiro inferno?", disse Gilbert Collard, advogado da Arca de Zoé, a jornalistas em Paris. "Se eles estavam errados em acreditar nisso, em sonhar com isso, se eles estavam errados em torcer por isso -- isso significa que eles merecem trabalho forçado?" Contradizendo a descrição das crianças como "órfãs de guerra", a ONU e as autoridades chadianas disseram que a maioria delas, de 1 a 10 anos, vinha de famílias com pelo menos pai ou mãe vivos, na violenta fronteira entre Chade e Sudão. Entre os detidos estão também sete tripulantes espanhóis do vôo fretado pela Arca de Zoé e um piloto belga. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu pessoalmente ao presidente do Chade, Idriss Deby, que liberte os jornalistas franceses, na busca por uma solução mutuamente satisfatória. Em mensagem enviada por email a sua família via embaixada francesa em N'Djamena, o fotógrafo Guillou descreveu sua prisão como "pesadelo". "Estou com boa saúde e animado", afirmou. Houve manifestações populares contra a ONG, inclusive com palavras de ordem contra a França, no Chade e no Sudão. Algumas famílias francesas dizem que esperavam receber órfãos de Darfur retirados pela Arca de Zoé e que pagaram em alguns casos mais de 2.000 euros como "doação" para cobrir os custos. (Reportagem adicional de Stephanie Hancock em Abeché, Alain Amontchi em N'Djamena, Stephanie Nebehay em Genebra, Thierry Chiarello em Paris e Claude Canellas em Bordeaux)

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