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Evangélicos criticam ‘imoralidade’ de Trump

Editorial da revista ‘Christianity Today’ diz que presidente age de forma ‘vergonhosa’

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - A revista Christianity Today, principal publicação evangélica dos EUA, acendeu o sinal de alerta na campanha pela reeleição de Donald Trump. Em editorial, a direção critica o presidente pela atuação que o levou ao impeachment e defende sua destituição no Senado. Em 2016, o voto dos evangélicos foi fundamental para a vitória de Trump sobre a democrata Hillary Clinton.

Donald Trump com Tony Perkins, presidente do Family Research Council, um grupo ativista evangélico dos EUA Foto: Cheriss May/The New York Times

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Em entrevista à rádio NPR, o editor-chefe da revista, Mark Galli, criticou Trump e disse que o presidente mostrou com relação à Ucrânia “um comportamento moral vergonhoso”. “Quando uma pessoa tem hábitos imorais tão sérios, duradouros como esse, não é algo que deve apenas ser condenado, mas também sugere uma espécie de confusão psicológica e moral”, disse Galli.

O editorial lembra que o presidente tentou usar seu poder para forçar um líder estrangeiro a investigar um rival. “Isso não é apenas uma violação da Constituição, mas também é profundamente imoral”, diz o texto, em referência às pressões de Trump sobre o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, para que investigasse o democrata Joe Biden.

A revelação do caso levou ao processo de impeachment do presidente, que foi aprovado na quarta-feira na Câmara dos Deputados e agora deverá ser submetido ao Senado, o que pode acontecer nas primeiras semanas de janeiro.

A Christianity Today tem cerca de 80 mil assinantes. O editorial foi surpreendente para uma publicação que evita entrar em brigas partidárias. Mas ainda é improvável que indique uma mudança significativa na base de apoio de Trump. A revista há muito tempo representa um pensamento centrista, e líderes evangélicos populares com mais seguidores continuam ao lado do presidente.

Ontem, Trump usou o Twitter para atacar a, que ele qualificou de “revista de esquerda radical ou “muito progressista” que “não sabe ler uma transcrição perfeita de um telefonema” – uma referência ao telefonema dado a Zelenski, em julho, que motivou ao impeachment. “Nenhum presidente fez mais pela comunidade evangélica e nem chegou perto. Vocês não receberão nada desses democratas. Não vou ler a Christianity Today novamente”, tuitou Trump.

Os cristãos evangélicos brancos são um dos blocos de eleitores mais fiéis a Trump e surpreenderam os analistas políticos nas eleições de 2016, quando a comunidade conservadora respaldou firmemente um candidato divorciado duas vezes, protagonista de escândalos de adultério que anos atrás defendia o direito ao aborto.

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Trump conseguiu obter o apoio dos evangélicos em parte por ter escolhido como vice-presidente o conservador Mike Pence, ex-governador de Indiana, que se descreve como um “católico renascido” que impregnou a Casa Branca de um profundo conservadorismo. Ele também se cercou do apoio de outro influente evangélico, Mike Pompeo, ex-diretor da CIA, que se tornou secretário de Estado.

O apoio dos evangélicos a Trump sempre esteve acima dos 80%, principalmente em razão do apoio de Trump a Israel e ao poder do presidente de indicar juízes para a Suprema Corte que sejam contra a legalização do aborto. O apoio é importante principalmente nos Estados do sul dos EUA, norte do Texas, na Carolina do Norte, Missouri e norte da Flórida. O voto evangélico sempre favoreceu candidatos republicanos. George W. Bush, na eleição de 2004, obteve 78% de apoio entre eles.

Os evangélicos são 25% do total do eleitorado americano e um terço dos eleitores que se identificam ou se dizem republicanos. A controvérsia com a revista, portanto, é um terreno minado para o presidente. “O coração do evangélico branco está percebendo que seu pulso é fraco e há doença na fé”, disse Lisa Sharon Harper, presidente do FreedomRoad.us, grupo cristão. “Estou feliz que eles tenham se manifestado.” / AP e EFE

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