PUBLICIDADE

Evidências de Powell são frágeis, diz especialista

Por Agencia Estado
Atualização:

As evidências apresentadas pelo secretário de Estado americano, Colin Powell, de que o regime iraquiano estaria se capacitando para produzir armas nucleares foram consideradas frágeis pelo engenheiro naval e contra-almirante da reserva da Marinha, Othon Luís Pinheiro da Silva. Durante mais de 20 anos, Silva gerenciou o programa nuclear brasileiro, que resultou no domínio da tecnologia do enriquecimento de urânio pelo processo de ultracentrifugação. Foi ele quem concebeu o modelo de ultracentrífuga que equipa a usina de enriquecimento do Centro Tecnológico da Marinha, em Iperó, adotado também pela nova usina de Resende, no Rio. Segundo Silva, os cilindros de alumínio mencionados por Powell são considerados ultrapassados na concepção de uma ultracentrífuga moderna. "As mais eficientes são de fibra de carbono ou de uma liga especial de titânio." De acordo com ele, dois equipamentos com rotores de alumínio foram importados para estudos há mais de duas décadas, ainda no início do programa nuclear brasileiro. "Eram ultracentrífugas pré-históricas", comparou. Ele considera que seria um atraso voltar a usar o alumínio, embora o emprego desse material seja possível. Nesse caso, segundo ele, para se obter uma produção razoável, seria necessária uma quantidade muito grande de equipamentos, algo como 10 mil tubos. "Quem vai fazer um programa mais avançado parte de outro material." O uso de ímãs para enriquecer urânio também é uma tecnologia ultrapassada, segundo Silva. "São equipamentos chamados calutrons, cujos campos magnéticos utilizam imãs." Ele se recorda que, no passado, os alemães importaram esses equipamentos da Rússia. O campo magnético com ímãs separa os isótopos que possuem massas diferentes, mas em quantidades muito pequenas, não servindo para produção em escala. "Isso é da época de Maomé, impensável nos dias atuais", ironizou. O contra-almirante na reserva, atualmente consultor de engenharia na área energética, lembrou que o secretário americano é bem assessorado, e não deveria usar evidências tão fracas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.