Evo convoca referendo sobre Carta

Ameaça de boicote da oposição no Senado leva líder boliviano a assinar decreto marcando votação para dezembro

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Por Reuters , Associated Press , AFP e La Paz
Atualização:

O presidente boliviano, Evo Morales, convocou ontem à noite por decreto um referendo nacional para aprovar seu polêmico projeto constitucional, apesar da rejeição dos grupos opositores. A consulta será realizada em 7 de dezembro. Líderes sindicais favoráveis a Evo haviam pedido no final de semana que o presidente convocasse o referendo por decreto depois de a oposição, que domina o Senado, ter anunciado que rejeitaria a proposta. Governadores opositores - de Beni, Pando, Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca - rejeitam o projeto constitucional, alegando que não expressa a vontade de todos os bolivianos. A nova Carta permitiria a reeleição consecutiva do presidente. Evo assinou o decreto em uma cerimônia no palácio presidencial que contou com a presença de ministros, comandantes militares, líderes sindicais e delegações indígenas. O presidente convocou para o mesmo dia a eleição dos governadores de La Paz e Cochabamba. Os governadores desses departamentos tiveram seus mandatos revogados na consulta do dia 10 . Também serão escolhidos vice-governadores nas nove regiões do país. Evo convocou o referendo 18 dias depois de ter sido ratificado no cargo na consulta sobre a revogação de mandatos, com 67,41% dos votos. No processo constitucional de dezembro, os bolivianos votarão, por um lado, pela aprovação do texto da Constituição em seu conjunto e, por outro, deverão definir a extensão dos latifúndios que poderão ser desapropriados - questão sobre a qual a Assembléia Constituinte não chegou a um acordo. A aprovação da nova Carta marcará a "refundação" da Bolívia prometida por Evo para dar mais poder aos indígenas e consolidar uma economia "anti neoliberal" regida pelo Estado. CERCO EM AEROPORTOS O governo boliviano confirmou ontem que o presidente Evo foi forçado, na quarta-feira, a utilizar um aeroporto brasileiro em Rondônia para fugir de um protesto de opositores radicais. O episódio foi mais um desdobramento do conflito político entre o presidente e a oposição. Evo havia viajado para o Departamento (Estado) de Beni, na fronteira com o Brasil, para assinar um contrato de estudos para a construção de uma hidrelétrica. No entanto, manifestantes ligados aos governadores de Beni, Pando, Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca, que se opõem ao presidente, tomaram os aeroportos das cidades bolivianas de Riberalta e Guayaramerín, impedindo o reabastecimento do helicóptero que Evo usaria para voltar a La Paz. Os ativistas chegaram, até mesmo, a apedrejar o helicóptero, mas sem ferir o presidente. Sem alternativa, Evo teve de ir por terra até a cidade de Guajará-Mirim (RO), onde entrou em um avião militar boliviano já na madrugada de ontem. A prefeitura de Guajará-Mirim, que fica na fronteira com a Bolívia, a 347 quilômetros de Porto Velho, confirmou o vôo. "A melhor solução foi ir por terra até Guajará-Mirim, porque ali havia um aeroporto que dava todas as seguranças técnicas", disse ontem o ministro de Hidrocarbonetos e Energia, Carlos Villegas, que acompanhou Evo.

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