
24 de outubro de 2019 | 10h24
Atualizado 24 de outubro de 2019 | 12h05
LA PAZ - O presidente boliviano Evo Morales disse nesta quinta-feira, 24, que venceu as eleições gerais no primeiro turno, obtendo mais de 10 pontos de diferença sobre o adversário Carlos Mesa, o que, de acordo com a lei, evitaria a realização do segundo turno.
"Boas notícias... Nós já vencemos no primeiro turno. Falta computar 1,58% dos votos, mas já ganhamos com os votos rurais", disse Evo em entrevista coletiva, citando que no cálculo oficial - com mais de 98% da votação - seu partido tem 46,83% dos votos, em comparação com os 36,7% de Mesa.
Apesar disso, Evo disse que está disposto a disputar um segundo turno se for necessário. "Se o resultado final disser que vamos para o segundo turno, iremos (mas) se o cálculo oficial disser que não há segundo turno, respeitaremos, e o defenderemos", afirmou o presidente.
De acordo com os dados disponíveis no site do órgão responsável pela contagem dos votos no país, Evo aparece com 46,38% dos votos contra 37,03% de Mesa - uma diferença de 9,35 pontos - com 98,35% das urnas apuradas.
As únicas urnas que ainda não foram computadas estão na região de Chuquisaca, onde está a capital política da Bolívia, Sucre. Nessa localidade, apenas 70,4% dos votos já foram verificados.
Já no Departamento (Estado) amazônico de Beni, a apuração está em 99,69% porque será necessário repetir a votação em algumas seções eleitorais - o órgão eleitoral não explicou, porém, a causa deste problema.
O sistema eleitoral boliviano considera vencedor já em primeiro turno o candidato que conseguir 50% mais um dos votos ou o que tiver mais de 40% com uma vantagem de dez pontos sobre o segundo colocado. Se esses dois cenários não forem alcançados, os dois mais votados disputam um segundo turno.
Nesta quinta, Mesa anunciou a criação de uma "Coordenação de Defesa da Democracia" para pressionar pela realização de um segundo turno. O objetivo da aliança do opositor com os partidos da direita e líderes centristas é "conseguir que se cumpra a vontade popular de definir a eleição presidencial no segundo turno", destaca uma nota publicada no Twitter.
Atrasos durante a apuração após a votação de domingo e uma mudança repentina nos rumos do resultado ampliaram as tensões, resultando em protestos e marchas nas principais cidades de um dos países mais pobres da América do Sul.
Na noite de quarta-feira, com a apuração quase concluída, centenas de apoiadores da oposição agitando bandeiras protestaram do lado de fora do prédio do tribunal eleitoral em La Paz, cantando e disparando fogos de artifício.
Depois de todas as manifestações dos últimos dias, o clima na praça do lado de fora do tribunal eleitoral havia se tornado mais tumultuado do que violento, com pequenas fogueiras e principalmente jovens cantando que não queriam viver em uma ditadura.
“Evo acumulou poder demais. Veja tudo o que aconteceu, ele não quer sair”, disse Franco Garcia, de 21 anos, acrescentando que votou em Mesa, um ex-presidente, porque seria mais fácil derrubá-lo se necessário. “Se continuarmos com Evo, algo como a Venezuela nos espera. Ele tem muito poder.”
Os distúrbios - os piores do governo de Evo desde que ele chegou ao poder em 2006 - podem se espalhar se a vitória em primeiro turno for confirmada, depois que monitores internacionais, governos estrangeiros e a oposição pediram que fosse realizado um segundo turno.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) questionou a contagem e citou uma mudança “drástica” e inexplicável na votação, que, segundo a organização, prejudicou a confiança dos eleitores no processo eleitoral.
Em uma reunião na quarta-feira, a OEA recomendou a realização do segundo turno, mesmo que Evo alcançasse uma vantagem de 10 pontos.
Vários governos estrangeiros, incluindo Estados Unidos, Brasil e a União Europeia, também expressaram preocupação com a integridade da votação. / AFP, EFE e AP
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